quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

my (re)view: Star Wars: The Rise of Skywalker . 2019

Imagem via imdb.com
As minhas expectativas para o suposto final da saga Star Wars não eram as maiores. Todos sabemos que a trilogia original com os episódios IV, V e VI é um grande marco no sci-fi e que os episódios I, II e III foram algo que podiamos passar bem sem eles, mas quando J. J. Abraams fez renascer mais uma vez a saga, com personagens novos e cheios de carisma no episódio VII havia esperança na continuação desta história. Rian Johnson agarrou com garra o episódio VIII, mas J. J. Abraams regressou à saga depois de Colin Trevorrow ter saído por divergências criativas com a Disney. Mau sinal, o alerta começou logo aí! Rey (Daisy Ridley) era uma belissíma protagonista e Finn (John Boyega) também tinha o lado aventureiro e destemido que a saga precisava, mas chegarmos ao final de mais um ciclo e constatar a falta de cuidado que houve pela história, pelos personagens e a quantidade de situações que não fazem sentido ou simplesmente surgem de forma patética é triste. Rey torna-se desinteressante e irritante, Finn não tem qualquer relevância e até Ben (Adam Driver) se tranforma naquilo que todos os vilões mais temem, quando o verdadeiro vilão Palpatine revolve renascer com um plano maquiavélico quase que inventado à pressão. Estes filmes são feito a cima de tudo para passarmos uma boa experiência de cinema, quer a nível visual quer a nível de história, mas o poder narrativo é tão fraco e pouco esforçado que os caminhos mais fáceis e desinteressantes que podiam existir foram utilizados. Quando tudo tenta ser demasiado perfeitinho, deixa de surpreender e se era suposto ser empolgante falha no entusiasmo, com desilusão atrás de desilusão pelas escolhas correctas demais que optou por tomar. Um final nada glorioso, de uma saga que apesar disso continuará a fazer sonhar gerações e gerações.

Classificação final: 2/5 estrelas.

domingo, 8 de dezembro de 2019

my (re)view: Marriage Story . 2019

Imagem via variety.com
Pode dizer-se que Marriage Story é um filme bastante denso. Denso nos sentimentos, denso nas palavras, denso naquilo que significa ser feliz e valorizado quando colocamos o amor e a felicidade de outros em primeiro lugar numa relação, e deixamos para trás o nosso bem estar emocional. Noah Baumbach (Frances Ha 2012) escreve e realiza de forma crua, verdadeira mas também divertida aquilo que podiam ser situações perfeitamente normais entre um casal à beira da ruptura e com naturalidade percebemos cada um dos lados e identificamo-nos com algumas situações. Existem momentos de uma intensidade tamanha que elevam este filme a muito mais do que uma história sobre um divórcio. Esses momentos transmitem dor e sofrimento e é impossível não ficarmos tristes e abalados com o que estamos a ver. Os diálogos entre personagens são perfeitamente credíveis e espontâneos, cheios de raiva e angústia mas também cheios de amor e tudo se sente como verdadeiro, pois esta podia ser a história de cada um de nós ou de qualquer outra pessoa que já conhecemos na nossa vida. Scarlett Johansson tem a meu ver a melhor performance da sua carreira e Adam Driver mostra mais uma vez porque é dos melhores actores da actualidade e quem diria que química entre os dois resultaria tão bem. Chegamos ao fim de Marriage Story completamente de rastos depois de termos levado uns quantos murros no estômago. A beleza da sua honestidade tocará a todos disso tenho a certeza.

Classificação final: 4,5/5.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

my (re)view: The Irishman . 2019

imagem via bostonhassle.com
A maneira como vemos e apreciamos um filme vai mudando consoante o nosso gosto, mas acima de tudo vai acompanhando o nosso crescimento intelectual. Com Martin Scorsese aprendi que o meu gosto por cinema tinha um grande impacto na minha vida. Talvez sem os filmes dele e o que significavam para mim nunca me teria apercebido disso. Quando me perguntam qual é o meu género preferido de filme, digo imediatamente “gangster” e isso deve-se à forma magistral como Scorsese introduziu esta vertente no cinema. Mas vamos focar-nos no que interessa, The Irishman - o meu filme mais aguardado do ano, com um elenco de luxo, o tema do costume com os suspeitos do costume. E tal como o crescimento que falava anteriormente, este é um outro nível Scorsese, com a maturidade que todos estes bosses precisavam e só um homem podia fazer. Nunca me senti tão triste a ver um filme deste género e não digo isto de forma depreciativa. Essa tristeza vai aumentando até ficarmos totalmente desgastados, destroçados e é incrível evidenciar a eficácia com que isso se sente. De novo, o rise and fall de um outcast com muita sorte e o quanto o peso dessa sorte pode transformar-se num enorme vazio. Sente se uma melancolia cada vez maior e existe uma tensão crescente que só Thelma Schoonmaker sabe impecavelmente criar com a sua estratégica e detalhada edição. Ao contrário do ritmo energético de Goodfellas (1990) e Casino (1995), Martin Scorsese foca-se apenas nas relações entre um triângulo de amizades com ligações à máfia e das consequências das acções através de uma abordagem mais específica, pesada e madura. Frank Sheeran (Robert De Niro) conhecido como "the irishman" dedicou a sua vida a cumprir ordens de outros, deixando para trás o papel de homem comum na sociedade. Quando este passa de condutor de pesados a assassino contratado pelo chefe mafioso Russel Bufalino (Joe Pesci), vai ganhando a sua confiança demonstrando lealdade ao longo de décadas, vindo a ser mais tarde a sua amizade com Jimmy Hoffa (Al Pacino) a chave para o que Frank tinha de mais parecido com uma vida normal. Scorsese sempre foi um bom comandante e cada vez mais prova que é mestre da perfeição. A firmeza e intensidade entre actores é tão poderosa, não só graças aos dotes de interpretações destes gigantes como do argumento onde o desenvolvimento de personagens só podia ser bem conseguido pelo facto do filme nos dar esse tempo necessário para os podermos compreender. Cada etapa e cada decisão fica mais descomplicada de perceber assim que vamos conhecendo melhor os protagonistas e a pureza da sua amizade. The Irishman acaba por não ser só um filme de gangsters, é também a história de um homem cujas escolhas mais importantes da vida foram trocadas por momentos de poder e promessas que no final não restaram. Nos dias de hoje parece que é cada vez mais difícil agradar a todos, mas caramba, quem não concordar com a beleza cinematográfica que isto é não sei em que mundo vive.

Classificação final: 5/5.

domingo, 1 de dezembro de 2019

my (re)view: Luce . 2019

imagem via thespool.net
Vivemos num mundo onde inconscientemente nos julgamos uns aos outros todos os dias, tentando adivinhar o que cada um pensa ou sente quando confrontamos com situações mais delicadas. O melhor de Luce é dar importância a isso mesmo. Durante o filme observamos o jovem Luce (Kelvin Harrison Jr.) a ser questionado e julgado por professores, amigos e família quer sejam essas afirmações sobre as suas acções verdadeiras ou falsas. Pensamos constantemente se os seus sentimentos e atitudes serão sinceros ou produto de uma mente que vê o mundo ao seu redor a fazer lhe imposições sobre a maneira como tem que se comportar, falar e até pensar. E é por isso mesmo que este filme se transforma num retrato tão bom do que a sociedade se está a tornar e da forma como a opinião da sociedade deve ou não influenciar a nossa maneira de estar. Não percebemos bem quem são os heróis ou quem são os vilões quando na verdade somos por vezes moldados aos olhos de outros para agradar a uma maioria. O filme tem um papel muito importante na questão interacial assim como social passando por temas sensíveis da actualidade. É também um filme de excelentes actuações com veteranos como Naomi Watts, Tim Roth e Octavia Spencer a brilhar ao lado da maior estrela deste filme de seu nome Kelvin Harrison Jr. o novato que mostra estar à altura de todos os outros. Luce podia ser só mais uma história sobre um adolescente conturbado, mas eleva-se pelo suspense e forma como mexe connosco emocionalmente. Bem escrito, bem montado, com grandes interpretações e óptima banda sonora, Luce é daqueles filmes que se transformam em experiências cinematográficas que permanecem connosco depois de acabarem.

Classificação final: 4,5/5.

domingo, 24 de novembro de 2019

my (re)view: Le Mans '66: O Duelo (Ford v Ferrari) . 2019


Grande parte dos realizadores, não conseguem ser bem sucedidos quando toca a filmes relacionados com o automobilismo. É preciso excelência a nível técnico e sonoro para a experiência ser completa. James Mangold (Logan, 2017) consegue tudo isso e muito mais neste Le Mans 66 onde as sequências de corrida são emocionantes, transportando-nos para dentro dos carros tal não é a adrenalina dessas cenas. Esta é a história verídica, sobre a disputa entre a Ferrari e a Ford, quando a última decidiu apostar na Formula 1. Para que isso acontecesse, uma equipa de engenheiros ao comando do ex-piloto, agora vendedor de carros desportivos Carroll Shelby (Matt Damon) são contratados por Henri Ford II (Tracy Letts) para construir um Ford GT40 com o potencial de derrotar a grandiosa Ferrari na corrida 24 Horas de Le Mans em França, com o destemido Ken Milles (Christian Bale) ao volante. Apesar do modelo de narrativa ser usual, os personagens são a chave do interesse e afectividade que criamos por esta história. Christian Bale é um actor notável e tudo o que faz, faz sempre bem. Matt Damon também funciona muito bem aqui e os dois têm uma química incrível que nos faz acreditar na natureza daquela amizade. O filme não nos engana nem uma única vez e sabemos bem com aquilo que contar. Há sempre a tendência nestas histórias de resiliência e disputa, de tornar tudo demasiado sentimental e piegas para apelar à lágrima fácil e também existem desses momentos aqui, no entanto a qualidade de todos os outros aspectos fazem com que isso seja um problema menor. Para além de divertido, é emocionante e deixa na cara aquele sorriso no rosto que qualquer feel good movie sabe deixar.

Classificação final: 4/5.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

my (re)view: Um Dia de Chuva em Nova Iorque (A Rainy Day in New York) . 2019


A cada ano que passa as polémicas em torno da vida privada de Woody Allen aumentam, mas isso não parece demovê-lo da vontade de querer continuar a fazer filmes. A Rainy Day in New York viu a sua estreia banida de vários cinemas pelo mundo, nomeadamente nos Estados Unidos, onde não foi exibido em nenhuma sala. Em Portugal, Allen continua a ter um público bastante fiel, e boa receita de bilheteira com mais uma destas suas cartas de amor à cidade que tanto idolatra como sendo a melhor e mais interessante cidade do mundo, Nova Iorque. Já são várias as provas de que Allen é fiel aos seus conceitos e temas, não existindo aqui nada de novo no que toca ao material de escrita, notando-se uma certa repetição, repetição essa que se afirma claramente como opção e não falta de criatividade. Quer sejam os temas recorrentes ou não, o encanto nova-ioquino está sempre lá, assim como as dúvidas existenciais e problemas amorosos dos personagens principais. Timothée Chalamet é actualmente um dos jovens promissores mais interessantes da indústria, incorporando na perfeição o típico personagem dos filmes de Allen, neurótico e inseguro cuja namorada Ellen Fanning, se deslumbra por um realizador e um argumentista de cinema para um projecto jornalístico da faculdade. Uma viagem divertida e descontraída pela Nova Iorque boémia e artística onde Allen aproveita para criticar um pouco a indústria cinematográfica, gozar consigo mesmo e até fazer umas ligeiras provocações. Estamos assim perante mais um filme feito para os fãs de Woody Allen, aqueles que compreenderam melhor como um dia de chuva em Nova Iorque pode ser bastante especial.

Classificação final: 3,5/5.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

my (re)view: Living with Yourself (Season 01) . 2019


Sempre achei que Paul Rudd fosse um actor bastante interessante. Deêm-lhe um bom personagem e ele consegue fazer coisas boas com ele. Neste caso não lhe deram um, mas dois! Living with Yourself é a mais recente série da Netflix, realizada pela dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris (que já nos deram coisas diferentes como Little Miss Sunsine ou Ruby Sparks) seguindo a mesma vibe que os seus projectos anteriores em termos de realização e posso dizer até em história, sendo que abordada de maneira diferente. Simples, mas coeso, a série estuda um personagem cansado e desinteressado pela vida que lhe deu tudo menos o que lhe tinha prometido. Miles está a chegar à meia idade com a vida completamente estagnada. O seu casamento já teve dias melhores, no trabalho não evolui, já para não falar da pouca vontade que tem em mudar o seu comportamento. Quando um colega de escritório lhe fala de um spa milagroso que irá ajuda-lo a ter mais confiança e auto-estima, Miles não pensa duas vezes e faz uma marcação. Entra sozinho, mas sai em versão duplicada. Estamos perante uma comédia sombria, cujo objectivo é fazer-nos refletir sobre o que realmente somos ou aspiramos ser quando a vida não nos dá limões suficientes para fazer uma boa limonada. Paul Rudd interpreta de forma inteligente dois personagens bastante diferentes que partilham o mesmo ADN mas não as mesmas crenças. O melhor da série acaba por ser a forma como está contada e os twists que não são de todo os que mais esperamos. Clonagem é um tema recorrente no meio sci-fi, a tendência seria repetir ideias e isso aqui não acontece. A forma refrescante, divertida e até bastante tocante com que conhecemos Miles e Miles faz com que o desempenho de um bom actor e uma boa escrita da autoria de Timothy Greenberg sejam o suficiente para o tempo passar a voar. Com episódios de apenas 25 min cada, Living with Yourself tem tudo para ser uma série de sucesso e seria agradável continuar a seguir as peripécias de Miles e do seu clone.

Classificação: 4/5.

domingo, 13 de outubro de 2019

my (re)view: Joker . 2019


Diziam as profecias de internet que estava a chegar o filme do ano. O falatório começou a ser grande e as expectativas tendiam a crescer. Todd Phillips nunca me caiu bem no goto, mas quando todos remam para a mesma direcção alguma coisa queria dizer. Só que não! Que grande desilusão. Joker foi nos vendido como o "filme baseado em BD mas que não tem nada a ver com os filmes baseados em BD". O tempo passa e passa e Todd Phillips tenta desesperadamente enganar a nossa mente levando-nos a acreditar que estamos a ver algo inédito, mas não estamos. O fraco argumento, a falta de originalidade e a abordagem acerca daquilo que é a doença mental já foi anteriormente muito melhor explorada. A verdade é que Joker não mostra nada de novo e quando muitos o comparam a Taxi Driver ou The King of Comedy é estar a comparar grandes feitos cinematográficos a um filme banal cuja profundidade dada ao personagem Arthur Fleck/Joker não é assim tão complexa nem tanto quanto desejada. O casting errado e tinha sido um flop total. Este filme devia antes chamar-se: Joaquin Phoenix. Ele é a alma de toda a banalidade de argumento que assistimos do inicio ao fim, o brilho e a magnitude transborda e é ele que faz com que o personagem se eleve, transformando-o em alguém com importância, que perturba e sentimos compaixão por si. Acho que por isso mesmo se confundem um bocado os aspectos acerca de se estamos perante um bom filme, pois nem todos têm a capacidade de fazer aquilo que Phoenix fez, mas por mais que ele esteja divinal é impossível ver Joker como a obra-prima que o pintam. Há dois momentos neste filme que definem a importância de existirem actores como Phoenix neste mundo: a primeira vez que o vemos a rir descontroladamente e uma dança que será certamente das melhores cenas a recordar destes anos 10's. Sobre as comparações que têm sido feitos com Heath Ledger nem sequer vou falar, pois acho que são dois tipos de abordagem completamente diferentes. A vontade de transformar isto em "algo mais que um filme de super-heróis" acaba só mesmo por ser isso, uma vontade (nem o Bruce Wayne se safa!). Fizeram-me acreditar que estava à espera de alguma coisa inovadora e isso irritou-me muito. O tempo continuava a passar e nada de relevante acontecia. Já para não falar da pseudo crítica social, utilizando um talk show para a demonstrar, metendo o Robert De Niro ao barulho podia ser que até colasse. É uma pena que o potencial de grandes actores seja desperdiçado em troca de modas que levam grandes massas ao cinema. Obrigada ao Joaquin Phoenix por transformar todo este prato típico em algo mais gourmet. Ele sim merece todos os aplausos do mundo.

Classificação: 3/5.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

my (re)view: A Herdade . 2019


Enganem-se aqueles que pensam que o cinema português não está à altura do que se faz no estrangeiro. Enganem-se aqueles que acreditam que todos os filmes do nosso país são de fraca qualidade. Quando falamos de A Herdade, enganem-se aqueles que estão à espera de mais um filme que deixa a desejar. O que se faz por cá tem vindo a melhorar e bastante, basta só começarmos a prestar mais atenção. Uma história bem portuguesa, onde as raízes da nossa cultura estão à superfície num contexto histórico e político de um Portugal não muito longínquo. Passando por várias décadas dos anos 40 aos 90, acompanhamos os vários elementos da família Fernandes e daqueles que para ela trabalham, numa das maiores herdades do Alentejo ao comando de Miguel Fernandes impecavelmente interpretado por Albano Jerónimo ou não fosse ele um dos melhores actores que temos neste país. Todos os momentos de Albano Jerónimo no ecrã são poderosos, como que hipnotizantes, demonstrando o poder do seu personagem e daquilo que ele representa nesta história. Sandra Faleiro é grandiosa também. A primeira metade do filme é sublime, bem conseguida e equilibrada em todos os aspectos. A segunda metade peca um pouco pela repetição caindo em demasia no melodrama, tornando-se mais banal do que eu gostaria, redimindo-se num último acto que recupera o poder e a importância central de toda a narrativa. Tiago Guedes consegue aqui através de uma realização ambiciosa, planos belíssimos, iluminação perfeita, banda sonora curta mas esplêndida e a cinematografia deslumbrante de João Lança Morais, uma mística e um magnetismo forte que nos envolve durante quase três horas de duração sem darmos pelo tempo passar. Não é um filme perfeito, mas diz muito sobre aquilo que fomos e continuamos a ser como nação. Por vezes silêncios tem mais poder do que as palavras e os segredos não são eternos.

Classificação final: 3,5/5.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

my (re)view: Midsommar . 2019


De tempos a tempos aparece aquele em um milhão que marca realmente a diferença. Não é aquele que é adorado por todos, mas é aquele que com um jeito único faz a magia do cinema acontecer. Ari Aster é desses um em um milhão e nesta nova vaga do horror, e no meio deste momento de originalidade dentro do género nos últimos anos, são os filmes de Aster aqueles que mais se destacam. E antes de Midsommar não são muitos, é apenas um na verdade, a sua primeira longa metragem, Hereditary do ano passado, que fez com que o mundo começasse a falar dele como se de há muitos anos o conhecêssemos. Também argumentista dos seus filmes, Ari Aster continua a conjugar longos planos pela beleza da cinematografia com inúmeras influências de alguns dos seus realizadores favoritos, misturando uma banda sonora que nos envolve totalmente na história e momentos que mexem connosco física e psicologicamente. Fê-lo em Hereditary, fá-lo novamente em Midsommar. A história da relação entre Dani e Christian que na tentativa de a resgatar, viajam para a Suécia a convite de uns amigos para festejar as celebrações de solestício de verão. O que aparentemente seriam umas férias descontraídas acaba por se ir revelando numa experiência cada vez mais estranha e perturbadora. A dor da perda é novamente abordada por Aster de uma forma tão incomoda que se torna verdadeira e esquecemos que estamos a ver um filme. Quem diria que o horror às claras podia ser assim tão perturbador? Ficamos claramente a pensar sobre o que vimos durante dias e algumas teorias se levantam. Um dos aspectos mais curiosos do filme é como o humor negro resulta super bem no meio de toda a sua estranheza e de como o equilíbrio entre esses momentos e os mais tensos acontece. Fica também a menção à fabulosa Florence Pugh, a actriz revelação do momento a quem devemos claramente continuar de olho. Depois da visualização do filme Ari Aster convidado especial da 13ª Edição do Motelx (qual tive a alegria de estar presente) partilhou algumas curiosidades sobre a história e produção o que tornou toda a experiência ainda mais interessante. Fica a água na boca para a versão directors cut com cenas que não puderam ser incluídas na versão theatrical do filme. É um forte candidato a meu filme favorito do ano e só não me pronuncio mais fortemente a cerca disso, porque um senhor chamado Scorsese tem este ano algo para nos mostrar.

Classificação final: 5/5.

sábado, 14 de setembro de 2019

my (re)view: Swallow . 2019


Suscitou a minha curiosidade depois de algumas críticas que li aquando da sua passagem pelo Sundance Film Festival no início desde ano e quando vi que Swallow faria parte do cartaz do Motelx, não queria perder a oportunidade de o ver. Conta a história bizarra de uma mulher de classe alta que de repente sente uma enorme compulsividade em ingerir os mais variados objectos. Na verdade, toda a estética meio vintage meio avantgarde é aquilo que salta mais a vista. Planos bem filmados, atenção ao detalhe nos cenários, cinematografia absolutamente incrível. Destaca-se também a brilhante e dolorosa (no bom sentido) performance de Haley Bennett que só não envolve mais devido ao insignificante poder de um argumento que podia ter arriscado mais, quer em diálogos quer em storytelling. O desenvolvimento de personagens é muito fraco e fiquei sem saber se o ridículo de algumas situações eram propositadas ou apenas fruto de uma má escrita. Numa história onde o principal é sabermos o porquê de uma compulsão, o filme obriga-nos sempre a focar-nos na vida luxuosa mas triste e vazia que a protagonista enfrenta, tendo sempre mais necessidade de mostrar a vida da dona de casa desesperada do que provocar o espectador ou causar-lhe algum tipo de sentimento perante o desespero daquela mulher cuja estranha vontade acaba por ter um porquê, que quando revelado não causa o impacto devido. Perdemos demasiado tempo com os clichés da família abastada tipicamente americana, quando se queria ver mais a parte psicológica e invulgar da questão.

Classificação final: 2,5/5.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

my (re)view: Ma . 2019


Depois de The Help e The Girl on the Train assim continua Tate Taylor pelos mais variados contos sobre donas de casa, que só não digo desesperadas para não ser pouco original tal como este seu filme, do qual nem percebemos bem a intenção. Ma conta a história de uma mulher de meia idade, aparentemente inofensiva, que se presta a ajudar um grupo de adolescentes comprando-lhes alcool, dando festas sem regras na sua casa, com o objectivo de se tornar amiga deles. Se existem momentos grotescos e de alguma violência a nível visual, também existem aqueles em que o tom do filme foge para a comédia e algumas coisas deixam de fazer sentido. A falta de originalidade acaba por o prejudicar e nem as capacidades de interpretação de Octavia Spencer, que tenta dar o seu melhor, safam o filme na generalidade. Ma aborda alguns dos temas mais relevantes sobre a adolescência, como o bullying, no entanto não os sabe aproveitar da melhor maneira e é também essa mistura mal estruturada que faz com que a narrativa se torne previsivel o que para mim acabou por ser aborrecido. Pouco mais se aproveita deste filme sem ser o desempenho de Spencer que se revela uma óptima e assustadora psicopata. Já a nível de realização pouco ou nada há a destacar. É mais um daqueles casos em que o potencial era bem maior do que foi concretizado.

Classificação final: 2,5/5.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

my (re)view: Mindhunter Season 1 & 2 . (2017- )


Para quem gosta dos temas em torno dos mistérios da mente dos criminosos isto é simplesmente das coisas mais magnificas dentro do género já alguma vez feitas! Mindhunter é a serie da Netflix que segue dois investigadores do FBI, Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt McCallany), exploradores da mente perversa de assassinos aos quais tentam perceber as suas motivações com a intenção de criar perfis que ajudem a prevenir e travar outros crimes no futuro. Estes dois agentes são inspirados em duas pessoas reais John E. Douglas e Robert K. Ressler que registaram entre os anos 70 e 80 entrevistas com alguns dos criminosos mais perigosos de sempre pelas prisões dos Estados Unidos e o mais incrível é que todos os detalhes que ouvimos relatados na serie são verídicos, tendo surgido na altura por estes dois homens a expressão "serial killers" que associamos hoje em dia a assassinos em série. Criado por Joe Penhall com a maior parte dos episódios realizados por David Fincher é notória a enorme influência do seu estilo cinematográfico ao longo de toda a série, sendo isso também uma das coisas que a caracteriza e símbolo da qualidade e meticulosidade presente em todos os seus trabalhos. É impressionante como ficamos viciados facilmente por uma série muito sustentada por poderosos diálogos com pormenores que aterrorizam muitas vezes mais que imagens. Da primeira para a segunda temporada, é notório o desenvolvimento de personagens, e isso também é uma das suas mais valias. O ritmo é lento, mas o tema assim o requer e não é por isso menos interessante, antes pelo contrário. A escrita é inteligente e os dois personagens principais não se podiam completar melhor. Enquanto Tench é o típico agente cauteloso com os pés mais assentes na terra, Ford tem uma maneira mais apaixonada e imprudente de explorar os casos. É bastante curioso como o narcisismo presente em todos os assassinos se torna presença constante em vários aspectos criando também um padrão forte também ele presente nos mais variados personagens da história, onde as suas leituras e atitudes se revelam demonstrando as nuances de personalidade de cada um, que por vezes não são assim tão diferenciadas. Mais que um thriller é um estudo do ser humano, feito com requinte e extrema qualidade. A terceira temporada de Mindhunter ainda não está confirmada mas seria um crime não apostar nela.

Classificação final: 5/5

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

my (re)view: Variações . 2019


Génios são aqueles que sem sabermos explicar bem porquê tocam pela sua autenticidade e por marcarem a diferença. António Ribeiro, partiu cedo demais, antes de saber que o seu maior desejo se tornara realidade e que as suas músicas viriam a perdurar até aos dias de hoje sendo sinónimo de originalidade e da portugalidade do fado que foi viver com o sofrimento de perseguir um sonho. Mais que um biopic musical, Variações é a homenagem mais que merecida a um artista de excelência, cujo significado das suas músicas nunca passaram de moda e tanto dizem a muitos de nós. Sérgio Praia tem uma entrega e paixão notórias que emocionam várias vezes ao longo do filme, mergulhando nesta figura melancólica e peculiar que continua bem vivo. Essa sua entrega é tão bonita e tão incrível de se ver que para além de simbolizar a enorme força da natureza que era António faz-nos perceber melhor a mente do artista. Apesar de alguns saltos temporais um pouco desajustados e do final apressado, é de muitos momentos especiais e marcantes que se faz este filme, que vive não só e obviamente da banda sonora, mas também de uma belíssima cinematografia e daquilo que o realizador João Maia decidiu contar para retratar o mais significativo sobre a vida de António. É de muito sentimento que vive este filme e é difícil não ficar rendido aos encantos de Variações, a pessoa e o filme. Afinal de contas sempre fomos nós que nos adaptamos a ele e não ele a nós.

Classificação final: 4,5/5

domingo, 21 de julho de 2019

my (re)view: O Rei Leão (The Lion King) . 2019


Um dos mais adorados clássicos da Walt Disney Animation Studios volta ao grande ecrã da maneira mais improvável possível. A animação passa a ser real, ou melhor a parecer real e o mundo está a ter opiniões bastante diferenciadas, na sua maioria bastante negativas. Como grande fã do clássico de 1994, tendo o original feito parte daquilo que são memórias da minha infância não me importei nada com esta nova versão. Não é suposto o impacto ser o mesmo (e isso eu já sabia) o que importa é o cuidado e a espectacularidade e respeito com que esta história foi mais uma vez contada pelas mãos de John Favreau que já tinha feito um excelente trabalho, no live-action de Mowgli n'O Livro da Selva em 2016. Mal (ou bem) comparado que seja parece que estamos a assistir a um episódio do National Geographic tal não é a beleza visual que o filme nos apresenta. Os animais e os cenários estão tão bem conseguidos que por vezes dá para esquecer que tudo o que estamos a ver foi criado num pano verde! A importância de O Rei Leão passa muito por aquilo que transmite representando a grande viragem no cinema de animação no que toca ao conteúdo e quanto a isso aqui bate tudo certo e são poucas as partes que não foram contadas exactamente da mesma forma, mas penso que do que se poderá sentir mais falta são das partes mais "abonecadas" que aqui foram transformadas em acções e gestos de natureza animal. Mas se a ideia era dar uma roupagem real, isso faz todo o sentido. O impacto não é definitivamente o mesmo, mas a nostalgia faz realmente maravilhas. Não poderia terminar este texto sem mencionar os momentos magníficos que Timon e Pumba proporcionam. Afinal de contas eles sempre foram os meus preferido e aqui continuam a ser. Apesar de não conseguir ser a surpresa que foi da primeira vez (nunca poderia ser), considero que mais bonita homenagem não podia ter sido feita. Não percebo o porquê de tanto ódio.

Classificação final: 3,5/5

quarta-feira, 3 de julho de 2019

my (re)view: Toy Story 4 . 2019


Euzinha, nascida em 1990 não me lembro da minha infância sem Woody e Buzz Lightyear. A meio ano de fazer trinta anos continuo a vibrar com isto como se continuasse a ser aquela criança. Quarto filmes depois Toy Story permanece original e emotivo como se do primeiro filme se tratasse. Tudo apontava para que o final da saga tivesse ficado pelo terceiro segmento das aventuras destes nossos queridos brinquedos, mas a verdade é que no final deste penso se não poderá haver no futuro pelo menos mais uma sequela. Depois de Andy ter ido para a faculdade e ter dado os seus brinquedos a Bonnie, vemos agora Woody, Buzz e os restantes e bem conhecidos a viver com a menina que está prestes a ingressar na escola. Com todas as emoções que isso acarreta Woody vê-se na obrigação de tornar a vida de Bonnie na escola mais agradável, e tal como fez com Andy pretende dar uma mãozinha. Só que as coisas não correm tão bem como planeado. Cada criança é uma criança e Woody começa a perceber que nada voltará a ser do jeito que era com Andy. A nostalgia acaba por ser o ser maior factor e mais uma vez quer a história quer a animação é algo que a Pixar consegue executar em excelência. A atenção ao detalhe, as inúmeras peripécias, o humor, os novos personagens (os velhos também!!) e a forma brilhante como a emotividade do que um brinquedo significa para uma criança nas mais várias circunstâncias transporta-nos sempre para um lugar feliz de lembranças. Para além de ter um carinho muito especial pela Pixar, vê-los continuar a dar o devido valor a Woody e Buzz é muito bom. Os dois trazem memórias do que foi ser criança e atingir um nível de perfeição com tanta emotividade é algo incrível. No fundo eu já sabia que era quase impossível Toy Story 4 desapontar neste mundo, no infinito e mais além!!

Classificação final: 4,5/5

domingo, 23 de junho de 2019

my (re)view: Russian Doll (Season 01) . 2019



Imediatamente assim que terminei a primeira temporada de Russian Doll veio-me à cabeça a frase "I live. I die. I live again.", não que exista algum tipo de referência ao filme a que ela pertence (Mad Max: Fury Road) mas porque o seu significado acaba por representar aqui um contexto digamos que semelhante. Se num caso representa um sentido profundamente religioso, aqui representa não a fé em nenhuma religião em particular, mas a fé em nós próprios e no que pretendemos então atingir a nível pessoal. Se morrêssemos constantemente de forma a voltar a um ponto de partida onde a nossa vida entrou em ruptura total? O que faríamos diferente se nos fossem dadas múltiplas tentativas para reparar esses danos? Que consequências poderiam ter essas novas decisões? Esta ideia do "ser uma pessoa melhor todos os dias" entra aqui bastante agarrada a um contexto de comédia que resulta absolutamente bem e assim que mergulhamos na mente da personagem principal percebemos que afinal existem detalhes mais sombrios na personagem. Nadia Volvokov (Natasha Lyonne) é uma mulher independente e acredita ela, bem resolvida. Mas problemas do passado acabam por atormentar o seu presente, acabando por influenciar a sua maneira de ser e agir perante todos. Quando se vê a morrer vezes sem conta, voltando sempre ao dia do seu aniversário (sim, isto também acontece nos filmes Happy Death Day, a diferença é que aqui há um significado por trás dessa data), Nadia começa a frenética jornada de perceber o porquê daquilo tudo lhe estar a acontecer. Esta é mais uma produção Netflix bem sucedida, que para além da diversão e das gargalhadas que nos proporciona, tem um elenco muito talentoso liderado pela fantástica presença sempre muito awkward mas fascinante de Natasha Lyonne e representa também um forte alerta sobre as doenças mentais, a maior parte das vezes desvalorizadas pela sociedade. Russian Doll representa um papel consciente, moral e aos mesmo tempo assume-se como forma de entretenimento acabando por ser uma mistura bastante interessante entre essas três coisas. Foi renovada para uma segunda temporada e ainda bem.

Classificação final: 4/5

sexta-feira, 21 de junho de 2019

my (re)view: Rocketman . 2019


Depois da história de Freddy Mercury ter sido retratada nos cinemas o ano passado, este ano é a vez de outro grande astro da música mundial ver a sua vida contada no grande ecrã. Diferenças: um deles já falecido, outro não. Semelhanças: ambos foram realizados pela mesma pessoa. Quer dizer, Dexter Fletcher realiza por completo Rocketman, mas na altura em que Bryan Singer foi despedido depois de um escândalo sexual, foi ele que assumiu as rédeas de Bohemian Rhapsody, não tendo sido creditado por isso. Isto tudo para dizer o quê? Bem, Rocketman é tudo aquilo que Bohemian Rhapsody podia ter sido e não foi derivado a todas essas turbulências e outras coisas mais que ficaram como curiosidade para os interessados. Acredito que o facto de não haver pudor em contar detalhes de todo o tipo de natureza, sobre o bom e o mau que fizeram parte da vida passada de Elton John, dá-lhe uma grande honestidade tornando-se fiel e arrojado ou não fosse o seu protagonista da vida real assim mesmo. Contado de forma original, vamos ao longo do filme passando pelos momentos mais significantes da vida do cantor, onde obviamente as suas músicas entram e de forma bastante peculiar, inseridas num contexto de musical, proporcionando momentos muito entusiasmantes e bonitos de se ver. Este filme não teria sido nada sem a brilhante prestação de Taron Edgerton, que para além dos seus dotes de representação revelou ter dotes vocais surpreendentes tendo cantado todos os temas que vemos interpretados no filme. Isso não tira assim uns pontinhos ao Malik, humm?? Vamos lá ver se quando chegar a hora da verdade também não se esquecem de recompensar o rapaz nem que seja com uma nomeações. Ele merece! Para além de toda a emotividade o filme tem um bom feeling que passa mesmo para nós, e as suas duas horas de duração parecem não ser suficientes e queremos mais. Acho que não há nada melhor que isso.

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.

sábado, 8 de junho de 2019

my (re)view: Chernobyl (minissérie) . 2019



É o assunto do momento e não é a toa que só se fala sobre a nova minissérie da HBO, Chernobyl. Para quem ainda não viu ou sabe pouco sobre o desastre nuclear ocorrido em Abril de 1986 na cidade de Prypiat na Ucrânia, esta série é não só, um excelente pedaço da História mundial sendo um retrato bastante preciso do que lá aconteceu, como é pormenorizada nas suas explicações sem ser exageradamente complexa a nível de linguagem. A estrutura da narrativa traça-nos imediatamente o futuro de um dos seus personagens principais ao qual não podíamos fugir, daí passamos ao momento da explosão na central nuclear de Chernobil e a partir daí fazemos automaticamente parte da fascinante explicação dos factos e da investigação que procura a todo o custo encontrar os porquês do desastre radioactivo em pleno estado da união soviética, opressor e injectando mentiras para encobrir os seus erros com o medo de fuga de informação para o resto do mundo. As peças do puzzle vão sendo cuidadosamente reveladas recorrendo a uma escrita inteligente e a momentos incríveis ao longo dos seus cinco episódios, não esquecendo o trabalho do excelente elenco de actores composto por Jared Harris, Stellan Skarsgard e Emily Watson, os dois primeiros interpretando Valery Legasov e Boris Shcherina, figuras verídicas decisivas na investigação do caso, assim como Ulyana Khomyuk personagem que simboliza o vasto número de cientistas que trabalharam em conjunto com os dois primeiros para chegar à verdade. O sentimento de terror e opressão característico da era soviética coloca-nos no lugar de cada um dos personagens e cada episódio transforma-se numa experiência e sentimos que estamos lá. Eu sabia o básico sobre o incidente e descobrir mais tarde cada detalhe e constatar que muito pouco do que vimos é ficcional e que coisas que podem parecer dramatizadas são totalmente reais é fascinante. E como é possível uma teia de mentiras sobre algo tão grave ser tão fascinante? Graças a anos de dedicação na pesquisa exaustiva, à estrutura da narrativa que foge a muito daquilo que costumamos ver neste tipo de série documental e à belíssima escrita de Craig Mazin, escritor, criador e produtor da série. Bastante sombrio por vezes até pesado de digerir, é quase como assistir a um filme de terror psicológico e digo isto no bom sentido. Há momentos memoráveis, quotes incríveis e sequências impecavelmente filmadas, crédito de Johan Renck realizador da série. Chernobyl é uma experiência que mexe connosco e nos intriga ainda mais depois de a termos terminado. Muito mais que um relato sobre o que de verdade se passou naquele dia trágico é uma incrível recriação do modo como o estado mantinha os seus interesses a cima da segurança do seu povo, promovendo um enorme circulo de mentiras sustentado também ele através do pensamento manipulador sobre os trabalhadores que verdadeiramente faziam crescer uma nação, mentiras que custaram uma enorme quantidade de vidas. Tudo isto faz com que Chernobyl seja brilhante e uma das melhores mini-séries (se não mesmo a melhor) de sempre.

Classificação final: 5 estrelas em 5.

domingo, 12 de maio de 2019

my (re)view: The Beach Bum . 2019


The Beach Bum, de Harmony Korine

Às vezes são precisas lufadas de ar fresco. The Beach Bum é a comédia mais louca e provavelmente a mais divertida que já vi em algum tempo. Para além de ter saído da sala de cinema cheia daquela feel-good vibe também vim com algumas teorias interessantes na cabeça. Teorias essas que podem fazer algum sentido ou talvez sentido algum! É essa a piada deste filme. Matthew McConaughey é Moondog um poeta relativamente conhecido na Florida por já ter lançado livros com imenso sucesso, mas principalmente por estar sempre na boa, curtindo à sua maneira uma vida de sexo e drogas grande parte dos seus dias, se não todos. Moondog é uma espécie de herói improvável, um tipo agradável para todos com o pequeno senão de não ser minimamente responsável para com nada na vida, vivendo o momento, não se preocupando com mais nada. Sinto que o público em geral não saberá apreciar a qualidade do trabalho de Mathhew McConaugey aqui, não que seja improvável vê-lo a fazer papeis diferentes, mas por este ser talvez demasiado diferente do que já fez. É excelente vê-lo mais uma vez a transformar-se desta forma. O filme é afinal de contas uma espécie de odisseia da vida de Moondog, onde se vai cruzando com algumas figuras caricatas durante a jornada para se encontrar a si mesmo ou então apenas reafirmar o seu estilo de vida. O realizador e argumentista Harmony Korine conseguiu criar não só momentos hilariantes com diálogos incríveis que misturam poesia com um lado mítico ou de alucinação, mas curiosamente muitas vezes contemplativo e com a cinematografia absolutamente deslumbrante de Benoît Debie, outro aspecto invulgar tendo em conta aquilo a que estamos perante. Uma visão muito interessante sobre a vida e os seus prazeres, representados por um tipo que prefere seguir o caminho mais fácil. Na vida real, nada é tão fácil assim, mas o lema "sorrir e ser feliz" acaba por fazer parte do encanto deste filme e durante uma hora e meia esquecemos os problemas e rimos muito. Objectivo conseguido.

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

my (re)view: Seduz-me Se És Capaz (Long Shot) . 2019


Acho que ninguém no planeta pensaria ver um dia Seth Rogen e Charlize Theron a fazer par amoroso ainda para mais numa comédia romântica. Pois isso aconteceu e o mundo agradece! Que química incrível e absolutamente improvável. A forma os dois encaixam super bem nesses papeis deve-se ao enorme talento de Theron e à irreverencia habitual já conhecida de Rogen. Realizado por Jonathan Levine que já conta com algumas comédias no seu cardápio, Long Shot é infelizmente e também apenas mais uma comédia. Com um par tão forte como o que descrevi a cima, desperdiça-se totalmente a oportunidade de contar uma história diferente, recorrendo apenas à inversão de papeis, cuja figura feminina ao contrário do habitual é quem tem mais poder, e o homem é aquele que se encontra numa posição mais delicada. Theron é candidata à presidência dos USA e paixoneta antiga de Rogen que volta a cruzar-se no seu caminho depois de ter sido despedido de um jornal local. O filme é feito na sua maioria de clichés habituais, mas também de momentos engraçados onde dá efectivamente para soltar umas gargalhadas mas nada de extraordinário. Os momentos de destaque não são tantos como aqueles que estava à espera, existem ainda assim uns bem bons, que infelizmente não são os suficientes para fazer deste filme algo de destaque. Não consegue passar da rom-com mediana, mas com dois fortes protagonistas. É um bocado bem passado onde afinal de contas é delicioso ver Charlize Theron e Seth Rogen a dançar ao som de Roxette. Imaginavam alguma vez isto?

Classificação final: 3 estrelas em 5.

terça-feira, 30 de abril de 2019

my (re)view: Avengers: Endgame . 2019


Avengers: Endgame, de Joe Russo and Anthony Russo

Onze anos e vinte e dois filmes depois a Marvel chega ao final de um ciclo. Certamente que os filmes deste universo cinematográfico continuarão a render muitos milhões, mas este é para mim também o terminar desta era. Sempre assumi que não era uma fanática por este tipo de filmes, no entanto sempre os acompanhei ao longo de todos estes anos. O bom casting de actores e o entretenimento associado eram o bastante para me fazer continuar a vê-los e quer se queira quer não, gostando mais ou menos, vamos conhecendo as histórias e ficando agarrados as possibilidades do que poderia acontecer a seguir a este ou aquele super-herói mias querido. Por consequência somos obrigados a seguir todos os filmes se não queremos perder o fio à meada. É quase impossível falar sobre este Avengers: Endgame sem revelar muito porque a verdade é que ele mexe com algumas emoções e isso obriga a alguma filtragem no que toca a escapar algum tipo de spoiler. As três horas de filme estão para mim divididas entre muito bom e assim-assim. A primeira hora e meia é do melhor que já se viu em filmes do género. O tom sombrio e o óptimo desenvolvimento de personagens no contexto de um ritmo lento transformam o filme em algo bastante denso, cheio de conteúdo e propósito. À medida que vamos aumentando o ritmo, entram mais personagens e a nostalgia vai sustentando bem o enredo. Adorei o facto do legado humorístico de Taika Waititi (realizador de Thor: Ragnarok) se ter mantido no actual Thor, muitos acharam que o ridicularizou, eu achei um máximo. Quando o conteúdo é em si pesado nada melhor que um toque de humor. Assim que entramos na parte de mais adrenalina da acção todos os problemas comuns nos filmes da Marvel surgem à superfície e isso desaponta um bocadinho. Aparecem os habituais problemas de um filme que contém muitos personagens e daí surgem também as inerentes dificuldades de gestão de tempo para dar espaço a todos. A batalha final poderá ser para alguns o ponto alto deste filme, mas como é recorrente os problemas estão presentes nomeadamente a sua duração e um momento um tanto ou quanto awkward e forçado, fruto dos tempos e da obsessão para demonstração da igualdade de género. Como mulher gosto de um bom momento de girl power, mas esse tem de ter propósito e ser natural coisa que não acontece. Não sei se muitos estarão preparados para o seu desfecho, cuja emotividade puxa para o nosso lado mais sensível, pois na verdade fomos não diria obrigados, mas habituados (os que gostam disto pelo menos) a seguir com carinho alguns personagens. Para mim foi forte. Fiquei triste e dei por mim a reflectir que se calhar até tenho gostado mais disto tudo do que eu pensava... Poderá não ser o grande filme épico de desfecho, mas é sem dúvida alguma uma boa forma de terminar um ciclo.

"I love you 3000".

Classificação: 4 estrelas em 5.

Top Marvel movies: https://boxd.it/2SuBo

terça-feira, 23 de abril de 2019

my (re)view: Se Esta Rua Falasse (If Beale Street Could Talk) . 2018


If Beale Street Could Talk, de Barry Jenkins

Barry Jenkins viu crescer todo o seu buzz quando em 2016 realiza Moonlight, uma abordagem bastante honesta e crua em torno da homossexualidade e as suas complexidades. Desta vez em If Beale Street Could Talk essa honestidade e dureza mantém-se, assim como a beleza e envolvência visual e emocional que este filme transmite e Jenkins tão bem a faz passar. Pensamos não saber onde ele nos vai levar, mas afinal não nos leva a um grande lugar e isso é bom. Mais importante que isso são todos os lugares especiais pelos quais vamos passando. Pode não ser um lugar melhor que o ponto de partida, mas temos esperança e acreditamos nele com todas as nossas forças. Torcemos pelo bem estar dos personagens e queremos que tudo corra bem. É esta a maior beleza deste filme, que acompanha a jornada apaixonada de um casal negro, os seus primeiros anos de vida em comum, contrastado com a desgraça perante o infortuno de nascer com o tom de pele errado. Há algo demasiado belo para ser transmitido em palavras e é isso que torna esta história tão bem sucedida. Vamos passando por várias facetas emocionais neste filme, entre as quais felicidade, paz, esperança mas também tristeza, raiva e revolta isto graças ao sentimento que os actores colocam nas suas personagens. Para além de marcar uma posição é um dos filmes mais românticos que já vi nos últimos tempos. Uma intensidade tal que é de partir o coração.

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

my (re)view: Hellboy . 2019


Hellboy, de Neil Marshall

Por onde começar no meio de tanto desastre? Raramente me arrependo de gastar dinheiro num filme, pois para mim ir ao cinema nunca é dinheiro mal gasto. No entanto, arrependo-me de ter escolhido ver este filme. Depois dos dois filmes de Hellboy de Guillermo Del Toro, chega o reboot de Neil Marshall com David Harbour no papel que outrora pertenceu a Ron Perlman e sejamos honestos assentava melhor ao último. Com poucos minutos de filme, adivinhei logo no sacrifício que aquela sessão se ia tornar. O argumento é péssimo, cheio de falhas e confusão por todo o lado. O CGI é do pior que já se viu, nem nos primórdios dos efeitos especiais se viram efeitos tão mauzinhos. Diálogos mesmo muito fraquinhos, até eu sou capaz de escrever melhor. Safam-se algumas, muito poucas infelizmente, cenas divertidas, e a banda sonora. Mais uma daquelas ideias tristes que os estúdios gostam de concretizar. Quanto mais penso sobre ele fico ainda com mais dúvidas sobre a nota que dei, talvez até merecesse menos.

Classificação final: 1,5 estrelas em 5.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

my (re)view: Shazam! . 2019


Shazam!, de David F. Sandberg

Muitos preferem evitar trailers e bem! Dizem que a curiosidade matou o gato e a mania que tenho de ver os trailers de todos os filmes pelos quais tenho mais interesse trama-me mais vezes do que me favorece. Para uma pessoa pouco conhecedora de comics a não ser aquilo que vê no cinema, Shazam! seria provavelmente algo parecido com o Deadpool da Marvel, talvez menos agressivo, mais light mas igualmente divertido que as abordagens anteriores no universo da DC. O trailer promete bastante, mas afinal todos os melhores momentos do filme estão no trailer, as melhores piadas e até alguns dos aspectos que poderiam ser mais reveladores. Desiludi-me por isso mesmo e o impacto não foi o mesmo, já para não falar de um vilão sem carisma algo que me espantou pois pensava que Mark Strong faria boa figura nesse papel. Coisa que também se pode dever a um argumento pouco cuidado, mais focado na parte cómica que no background da história. Não nego que me diverti a vê-lo, mas não passou muito disso. O elenco é gracioso e nomeadamente a dinâmica entre Zachary Levi e Jack Dylan Grazer é agradável de se ver. Fica um bocado aquém das expectativas, se é que ainda se pode colocar algum tipo de expectativas neste tipo de filme.

Classificação final: 3 estrelas em 5.

domingo, 7 de abril de 2019

my (re)view: Nós (Us) . 2019


Us, de Jordan Peele

Disfarçado de filme acessível, Us finge ser apenas mais um filme de horror cujos seus significados estão bem escondidos debaixo do que vemos à superfície. Teorias múltiplas podem surgir desta história bem trabalhada onde uma família a aproveitar as férias de verão se depara uma noite com uma outra família fisicamente igual a si. O terror e a confusão instala-se e a viagem que nos espera tem tanto de curiosa como de aterradora e não estamos preparados para o seu desfecho. Jordan Peele tem o requinte de outros tempos naquilo que faz. Tempos em que o horror não eram só sustos e as temáticas eram mais inteligentes do que simplesmente gritos ou uma cena com sons estridentes, carradas de sangue e luzes apagadas. Com o seu primeiro filme Get Out, ele mostrou que a comédia e o horror podem ser compatíveis com muita qualidade. Em Us faz isso tudo elevado ao quadrado. Ele é mestre nos twists, suspense, referências e metáforas que ficam connosco muito para além do filme. Este vai ser sem dúvida alguma um dos grandes deste ano.

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.

terça-feira, 19 de março de 2019

my (re)view: Bucha & Estica (Stan & Ollie) . 2019


Stan & Ollie, de Jon S. Baird

Todos sabemos ou já ouvimos falar de quem foram Bucha e Estica, mas não sei até que ponto é que todos saberíamos da faceta após a sua era dourada. Stan & Ollie conta a história dos anos menos gloriosos de uma das duplas de comédia mais bem sucedidas de sempre e dos obstáculos que tiveram de enfrentar para não cair no esquecimento que a mudança que uma nova era lhes trouxeram. Steven Coogan e John C. Reilly interpretam maravilhosamente este duo celebrando a sua amizade e importância no mundo artístico, demonstrando ao longo do filme a forma como se dedicavam e interagiam criativamente nos seus trabalhos. Pena que siga o caminho completamente usual da maioria dos biopics, com alguns dos clichés do costume. Apesar disso, os dois actores completam o simples enredo com as suas performances, dando-nos momentos muito bonitos de assistir sob um olhar carinhoso e absolutamente delicioso de se ver que não deveria, mas provavelmente vai passar ao lado de muita gente.

Classficação: 3,5 estrelas em 5.

segunda-feira, 18 de março de 2019

my (re)view: Triple Frontier . 2019


Triple Frontier, de J. C. Chandor

J C Chandor, responsável por filmes como Margin Call, All is Lost e o magnifico e muito subestimado A Most Violent Year regressa este ano pela mão da Netflix com Triple Frontier. Um heist movie sobre o roubo de milhões de dólares da casa de um poderoso traficante de droga colombiano efectuado por ex soldados de topo que se reúnem aparentemente para o plano perfeito. O elenco é composto por Oscar Isaac, Ben Affleck, Pedro Pascal, Charlie Hunnam e Garrett Hedlund que alcançam uma dinâmica excelente entre si e fazem assim este filme ter muito mais vida. O tema é comum e já várias vezes apresentado e esse talvez seja o seu calcanhar de Aquiles, a diferença é a forma como o elenco faz com que o interesse nunca se perca e a tensão se sinta no ar mesmo quando os momentos possam ser previsíveis. Também a forma como Chandor o filma faz com que essa tensão e esse suspense se revele constantemente com a ajuda da não menos boa cinematografia. Destaco no elenco o trabalho de Oscar Isaac, sendo a sua personagem a mais importante no enredo fazendo mais uma vez um excelente trabalho, não deixando de elogiar o resto do bando que complementam o grupo. Penso que teria potencial para muito mais se o argumento conseguisse ser um pouco mais original, mas que dentro do comum neste tipo de história se safa muito bem mesmo. J C Chandor não desaponta e quero obviamente continuar a seguir o seu trabalho.

Classificação: 4 estrelas em 5.

domingo, 17 de março de 2019

my (re)view: Vice . 2018


Vice, de Adam McKay

Até parece que me sinto mal por não ter gostado de Vice o quanto pensava que ia gostar. O retrato de Dick Cheney, vice presidente e braço direito de George W. Bush, contado de forma um pouco incoerente e superficial que acaba por não permitir que o elenco brilhe o suficiente mesmo quando todos o tentam fazer dando-nos sem dúvida performances absolutamente fantásticas, perante uma experiência acaba por não encher as medidas. Talvez fosse preferível um ritmo mais lento que obrigasse a mais detalhe, ao invés disso temos um ritmo frenético, que por um lado lhe dá uma certa identidade onde a edição é bem conseguida, mas a constante mistura de períodos temporais faz com que fique a impressão de que se perde a intensidade necessária dos momentos no presente. O desenvolvimento de personagens também fica assim comprometido pela quantidade de coisas que estão a acontecer ao mesmo tempo. Apesar disso adoro o facto de Adam McKay usar a sátira para ilustrar curiosos momentos e até decisões importantes. Chegamos ao fim e fica a sensação de que isto poderia ser um filme grandioso, daqueles em que tudo deixaria uma boa marca já com a bagagem da controvérsia as costas. Soube a muito pouco e isso acabou por se reflectir no seu todo. 

PS: Christian F*cking Bale!!!

Classificação: 3 estrelas em 5.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

my (re)view: Correio de Droga (The Mule)


The Mule, de Clint Eastwood

O cunho "realizado por Clint Eastwood" há muito que deixara de ser referência para mim. Curioso é que acabo por ver sempre o novo filme desta aclamada lenda de Hollywood, que nos últimos anos nada tem feito de especial para nos surpreender. Pois bem, desde Gran Torino que Clint Eastwood já não realizava algo tão bom. Mesmo sofrendo de alguns problemas de narrativa, momentos esperados e diálogos previsíveis, esta história sobre um reformado ex-combatente de guerra de 80 anos que mais ou menos por acaso acaba por se tornar correio de droga, tem bastante humor e acaba por nos oferecer o melhor que Eastwood nos poderia dar: a representação. A sua performance é a alma do filme, interpretando um homem cheio de amargura e arrependimento que tenta desculpar as más acções recorrentes sempre com uma atitude narcisista. Ao longo do filme ficamos cada vez mais rendidos por ele, algo que pensaríamos ser impossível tendo em conta o perfil do personagem e contrariando algumas criticas onde mais uma vez Eastwood é acusado de ser xenófobo e patriota, acho que pela primeira não senti isso dessa forma, pois essa mesma atitude é um reflexo das características evidentes do personagem. Apesar de ser baseado numa história verídica, devemos talvez olhar para o filme como uma sátira às habituais histórias do género pois não deixa de ser insólita. Bastante light e surpreendentemente divertido.

Classificação final: 3,5 estrelas em 5.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

my (re)view: À Porta da Eternidade (At Eternity's Gate)


At Eternity's Gate, de Julian Schnabel

"Sometimes I think maybe He chose the wrong time. Maybe God made me a painter for people who aren't born yet"

Focado apenas na fase final da vida de Vicent Van Gogh, At Eternity's Gate representa a época de maior produtividade criativa, mas também a mais negra da sua vida, tendo o filme como objectivo explorar a luta em torno da doença mental e como isso afectou os seus comportamentos e compulsividade a vários níveis. São muitos os momentos em que vemos as coisas sobre o ponto de vista do artista, os quais demonstram não só alguns dos seus demónios mas também as cores vibrantes e os seus futuros objectos de estudo existindo uma ligação muito forte aos seus rasgos de talento assim como às dúvidas constantes sobre o seu valor como criador de arte. Umas das cenas mais belas deste filme é protagonizada pelo próprio Van Gogh brilhantemente interpretado por Willem Dafoe e por Mads Mikkelsen interpretando um padre, onde ambos tentam compreender as motivações de um artista que não conseguiu triunfar durante o seu tempo. Dizem que os grandes génios da humanidade não obtém o reconhecimento em vida, Van Gogh é mais um desses casos. Já Julien Schnabel merece ser elogiado por ter realizado um trabalho que tanto absorve a alma do artista em conjunto com Willem Dafoe cujo o percurso de actor deveria ser mais vezes reconhecido e há mais tempo. Nunca é demais saber apreciar obras destas, biopics que ainda são capazes de arriscar sem seguir a linha comum de narrativa que os caracteriza.

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

my (re)view: No Coração da Escuridão (First Reformed)


First Reformed, de Paul Schrader

Como falar deste filme sem elogiar mil vezes a prestação de Ethan Hawke? Absolutamente incrível. É graças à melancolia, dor e entrega que ele coloca neste personagem que faz com que este filme seja ainda mais introspectivo e envolvente, criando uma bela experiência cinematografia que sabe ao saudosismo do bom e clássico cinema de narrativa pesada e cheia de complexidade e conteúdo dos grandes mestres de outros tempos. Paul Schrader escreve e realiza esta obra sobre um padre da uma igreja intitulada de First Reformed, cuja morte do filho na guerra do Iraque pôs à prova as suas crenças levando ao fim do seu casamento e consequentemente o transformou em alcoólico e desprovido de certeza e convicção. Uma viagem emocional sobre solidão, onde a fé se perde e os fantasmas do intimo levam à perda da esperança e do amor. Maravilhosamente filmado e de ambiente bastante intimista, é daqueles filmes que nos acompanham muito depois de terem terminado.

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.

sábado, 26 de janeiro de 2019

my (re)view: Serenidade (Serenity)


Serenity, de Steven Knight

Bizarro é provavelmente a primeira palavra que me ocorre dizer sobre este filme. Bizarro porque não estamos à espera da quantidade de momentos insólitos a acontecer já para não falar do desfecho surreal da história que deita por terra todas as boas hipóteses do que se pensa que poderia acontecer. Tudo aponta para um filme de suspense envolvendo um possível homicídio, mas esta é afinal uma mistura de thriller sobre o mundo virtual com o plano espiritual sem narrativa estruturada a estes dois pontos. Apesar da incoerência dos factos e do espanto que as revelações que vão surgindo nos causam, ficamos na mesma interessados em saber até onde é que afinal vamos parar. Matthew McConaughey é uma dádiva para este filme onde a melhor coisa com que podemos contar é a sua presença e onde damos graças ao universo pelo tempo de ecrã de Anne Hathaway não ser muito - um ódiozinho de estimação meu, fechando os olhos à sua pessoa no Devil Wear's Prada! Uma história que tenta ter uma dimensão demasiado profunda utilizando artefactos desleixados, cheia de metáforas que perdem significado quando damos por nós a soltar pequenas gargalhadas perante alguma da estupidez dos acontecimentos.

Classificação final: 2 estrelas em 5.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

my (re)view: Suspiria


Suspiria, de Luca Guadagnino

Os remakes dos grandes clássicos costumam ter sempre um enorme ponto de interrogação à sua frente. Apesar da direcção deste novo Suspiria estar nas mãos do super competente Luca Guadagnino, o peso da obra de 1977 de Dario Argento sentia-se mais, visto estarmos perante um dos melhores filmes do género do horror de sempre. Voltamos à conceituada e macabra escola de dança de Berlim onde se escondem acontecimentos estranhos associados a boatos de bruxaria. O misterioso desconforto perante o desconhecido e a forma como a luz, as cores, a cinematografia e o ambiente oculto se apresentavam fazem dele uma experiência daquelas que valem a pena. Perante algo tão bom, tudo o que fosse apresentado imaginava eu que fosse pouco, mas como todo o bom cineasta que faz magia Guadagnino não só fez um trabalho excepcional como fez transcender toda a mística da obra original ainda que abordando esta de maneira diferente. Aqui, aquilo que é o desfecho do filme original, é nos logo revelado e ao invés de passarmos o filme todo a pensar sobre com o que estamos a lidar afinal, as revelações e o medo vão-se instalando nos personagens e o mistério do inexplicável tomam conta da história e nós que até pensávamos que sabíamos ao que íamos, ficamos a processar todos os novos detalhes e segredos que ficam no ar ou não fosse o tema propicio a isso. Tilda Swinton musa de Guadagnino é perfeita no que dá a toda a magia incompreensível da história e Dakota Johnson é surpreendentemente assustadora neste papel em que dificilmente poderíamos imaginar vê-la. Enquanto a obra de Argento é bastante mais surreal, Guadagnino acaba por dar mais significado ao argumento inserindo-o num contexto histórico, nomeadamente mostrando a Alemanha dividida pós nazismo e a mulher com um papel em ascensão a nível social. Para além de um remake, o novo Suspiria dá-nos irreverência, talvez não a mesma irreverência que Argento fez sentir no seu projecto, mas definitivamente uma abordagem corajosa perante um filme de culto adorado por muitos. O mais importante de tudo é sentir que a cada obra de Luca Guadagnino, se sente a sua paixão pelo que faz.

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

my (re)view: Green Book: O Guia (Green Book)


Green Book, de Peter Farrelly

Viggo Mortensen e Mahersala Ali já demonstraram anteriormente o quão são bons naquilo que fazem e em Green Book isso não muda. Os personagens são daquele tipo que cria empatia com o publico, assim como a narrativa está disposta precisamente para puxar para o sentimento e supostamente se conecta connosco. Talvez esse seja mesmo o seu problema, pois acaba por ser demasiado básico e algo que já vimos anteriormente. O filme acompanha a viagem do motorista Tony Vallelonga e do pianista Don Shirley pelo sul dos Estados Unidos ainda durante o tempo em que os negros não podiam frequentar os mesmos espaços que os brancos e mostra a relação que foram criando ao longo dessa viagem. Confesso que não compreendo todo o buzz em torno deste filme. Mais uma história verídica, sobre uma amizade improvável numa época onde poucos ousavam contrariar a sociedade. Inovador? Não. É apenas um filme mediano, doce, divertido, com boas performances, mas com algumas falhas no desenvolvimento de personagens onde a maior parte das pessoas nem vai querer saber. A ideia é a cima de tudo mexer com as emoções de quem vê. Há coisas piores, mas incluir este filme como um dos melhores do ano é sobrevaloriza-lo. O que é certo é que a critica em geral também está a adorar e a mensagem pode ser significativa sim, mas houve melhor cinema durante o ano. É mais um caso onde os actores fazem o filme e pouco mais, em especial Viggo Mortensen que tem aqui mais uma grande performance na carreira.

Classificação final: 3 estrelas em 5.