segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

my (re)view: The Affair (2014-2019)

imagem via www.observer.com

Desde o início da sua existência, ouvi e ouvi dizer que The Affair era uma excelente série. Sem qualquer tipo de razão, a verdade é que apesar de me ter despertado interesse, fui sempre adiando a sua visualização. Só sabia que envolvia uma traição (como o próprio nome da série indica) e que se focava nas consequências desse mesmo caso extraconjugal. O que eu não sabia era que a sua estrutura a faria destacar-se de outras já feitas até então e que a qualidade de escrita a faria ser única mostrando-nos que cada um de nós pode interpretar as coisas de maneira diferente, reagir e medir consequências de maneira diferente. Ao longo de todas as temporadas cada episódio está dividido em duas partes, que seguem os mesmos acontecimentos, mas vividos por duas personagens diferentes, explicando a visão de cada uma delas. Ao contrário do que se podia pensar, a repetição não é aborrecida e cada versão trás coisas novas para cima da mesa. Todas as temporadas são mais focadas em Noah (Dominic West) e Alison (Ruth Wilson) os dois personagens que se envolvem e levam de arrasto consigo numa teia de destruição Helen (Maura Tierney) e Cole (Joshua Jackson) que por isso mesmo também merecem o seu destaque, mas sempre vistos como os dados colaterais de todo o envolvimento. Esta é uma série bastante madura, que provavelmente não me teria sido tão interessante e impactante se a tivesse começado a ver uns anos mais cedo. Ela faz-nos perceber que todas as decisões que tomamos acabam por causar impacto nos que nos são mais próximos, quer sejam elas boas ou más. Se num momento estamos do lado de Noah por estar preso a um casamento infeliz e sufocante, estamos do lado de Helen pois nada perdoa uma traição. Se noutro momento estamos do lado de Alison por viver presa a um dor incurável, por outro lado estamos solidários com Cole, pois não deixa de partilhar essa mesma dor. Penso que até à quarta temporada a qualidade da série é bastante consistente e tirando um ou outro episódio mais fraco, pode-se dizer que na sua generalidade nunca desaponta. A última temporada é provavelmente a mais fraca de todas, onde talvez por algum tipo de pressão (existem algumas curiosidades de bastidores que mais tarde li e que possam ter influenciado um final mais apressado) fizeram decrescer a escrita e a tornaram menos consistente e mais previsível e até desleixada. Dispensava algumas das passagens temporais enormes e até ficava feliz se o final fosse deliberadamente aberto. Ficarão para sempre evidentes as interpretações excelentes de todo o elenco, nomeadamente os quatro protagonistas que em especial na temporada quatro, onde nos proporcionam alguns dos momentos mais bonitos e atrevo-me a dizer mais bem interpretados da história do drama em televisão. Chegando ao final deste texto, pensando em tudo aquilo que experienciei aquando da visualização de The Affair penso que terá sido das séries que mais gostei de ver. Sem dúvida fica como uma das minhas favoritas.

Classificação final: 4,5/5 estrelas.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

my (re)view: His House . 2020

imagem via www.empireonline.com

Sou particularmente esquisita com o género do horror, existindo algum parametros cujos quais sou bastante picuinhas para que fique satisfeita com o resultado. Não são os filmes pelos quais procuro regularmente por novidades, mas pelas sujeitões do catalogo da Netflix a premissa de His House interessou-me particularmente associando-o aparentemente só pelo trailer a algum filme que perturba-se mais a nível psiclogico do que propriamente a nível de sustos e daqueles clichés habituais em que já sabemos sempre quando e como vão acontecer. His House conta a história de um casal de refugiados que fugiu da guerra no Sudão em busca de uma vida melhor no Reino Unido. Ambos estão a ter dificuldades de adaptação à nova vida, mas um mais que outro, estando disposto a enfrentar as consequências de um trauma do passado. As óptimas interpretações de ambos os protagonistas fazem muito pelo sucesso do filme, mas também o ambiente que é criado em torno dos mistérios desta história onde o drama dos refugiados muito presente hoje em dia tem bastante impacto naquilo que o filme pretende transmitir enquanto mensagem. Desafios sociais e psicologicos misturam-se muito bem com os elementos de horror aqui aplicados relacionados com questões tribais e do sobrenatural com uma história sólida e suficientemente perturbadora para mexer connosco. É algo fresco e feito com qualidade suficiente para ficarmos de olhos postos em Remi Weekes, o realizador. Para os que possam ter dúvidas, vale a pena dar uma espreitadela.

Classificação final: 4/5 estrelas.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

my (re)view: I'm Thinking of Ending Things . 2020

 

imagem via www.cosmopolitan.com

Charlie Kaufman é um dos argumentistas mais interessantes e provocadores da sua era. Mais uma vez, e tendo em conta que esta adaptação do livro I'm Thinking of Ending Things de Iain Reid parte da mente de quem idealizou Being John Malkovich (1999) ou Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2004), estamos perante mais uma obra que nos dá muito em que pensar. A história é aparentemente simples, sobre uma mulher que vai com o namorado à quinta onde os pais dele vivem para os conhecer. Para uma premissa tão banal como esta, as coisas tornam-se surreais em pouco tempo. Logo após uma breve introdução que poderia bem ser digna de uma comédia romântica indie, um longo dialogo entre os personagens principais faz-nos perceber um pouco do caminho em que estamos prestes a embarcar. Andamos para trás e para a frente, entre momentos que não percebemos bem se são realidade ou não, com uma imensa vibe de sonho bizarro com algum tipo de conexão com o que estamos a ver, mas que por vezes não se apresenta da forma mais clara e evidente. A magnifica Jessie Buckley interpreta uma mulher que vê alteradas múltiplas vezes ao longo da história vários aspectos sobre a sua vida, até mesmo o seu nome ou as cores da sua roupa, o que nos faz questionar realmente qual o seu papel nesta jornada sobre relações, sobre envelhecer, ser feliz, ser pai, ser filho, sobre sonhar, sobre desilusões e frustrações. Jesse Plemons tem uma performance mais contida, mas nem por isso menos intrigante, sendo bastante mais difícil de descortinar. Há momentos e conversas incríveis, mas que podem não resultar para todos devido à sua invulgar estrutura e complexidade. Eu cá achei que I'm Thinking of Ending Things é um filme desafiante e melancólico, para já o melhor que este também bizarro ano de 2020 nos deu. Um filme que invade a nossa mente de forma intrigante e por vezes até assustadora e que sem sabermos bem porquê mexe de alguma forma com o nosso interior.

Classificação final: 4,5/5 estrelas.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

my (re)view: Tenet . 2020

imagem via www.variety.co
imagem via www.variety.com

Primeiro que tudo e em tempos de pandemia é óptimo poder regressar as salas de cinema com filmes que valem a pena ver no grande ecrã. Se há coisa que Christopher Nolan sabe bem fazer, é um belo espectaculo cinematográfico e Tenet para além da originalidade da sua premissa também proporciona uma grande dose de entretenimento. A complexidade dos temas está sempre inerente às histórias que Nolan escreve e nos apresenta das maneiras mais loucas possíveis. Sim é um filme complexo, às vezes até demais, e não sei se mesmo depois de múltiplas visualizações ficarei totalmente elucidada, mas é isso que Nolan mais gosta de provocar no espectador. Irritante para uns, mas interessante para outros, se pensarmos que quando chegamos ao final são inúmeras as perguntas e os significados que procuramos discutir por algum tempo. A história gira em torno do personagem principal intitulado The Protagonist interpretado por John David Washington, um agente da CIA que se vê preso a uma operação secreta com o nome de Tenet que consiste em prevenir eventos no passado numa lógica de tempo invertido. Robert Pattinson é o seu parceiro de espionagem e acaba por ser o personagem mais interessante e misterioso da trama. Os cenários são espectaculares e tudo é ainda mais fantástico se pensarmos que Nolan nunca recorre à tecnologia para criar as cenas mais desafiantes nos seus filmes, assim como a banda sonora que está freneticamente a condizer com as ocasiões. Achei que o maior problema do filme tenha sido talvez os diálogos, que de por vezes tão preguiçosos fizeram com que os personagens não transparecessem uma conectividade emocional entre si. Sendo este muito mais um filme de emoção/acção e não emoção/sentimento onde não criamos grande afectividade pelos personagens. Mentiria se dissesse que compreendi todos os seus aspectos e não é dos melhores que Christopher Nolan já fez, mas foi sem dúvida mais uma grande experiência.

Classificação final: 3,5/5 estrelas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

my (re)view: Inception . 2010

 

imagem via www.imdb.com

Neste post em jeito de celebração do aniversário de dez anos de Inception e ainda antes de escrever sobre o próximo filme de Christopher Nolan, Tenet, aqui ficam algumas palavras sobre o meu filme preferido do realizador. Mesmo passados dez anos, Inception continua a ser um dos filmes de ficção-cientifica mais bem conseguidos de todos os tempos. A qualidade de escrita e realização de Christopher Nolan, assim como a banda sonora de Hans Zimmer e as interpretações, resistem ao passar o tempo e nunca desiludem. Vive-se repetidamente esta grandiosa experiência a cada visualização e dez anos após a primeira vez que o vi no cinema, voltei a fazê-lo ainda com mais entusiasmo. Elogiado por uns, muito criticado por outros o trabalho de Nolan marca sempre a diferença, não só pela complexidade com que conta histórias mas também pela originalidade e forma como nos envolve dentro delas. Este conceito de sonho dentro de sonho e daquilo que é realidade ou não faz-nos mergulhar numa roda gigante de paradoxos que suscitam curiosidade, e algumas estranhas teorias. Quer se goste ou não fica-se a falar dos seus filmes cuja imagem muito própria e os parâmetros são cada vez mais fieis a si próprio.

Classificação final: 5/5 estrelas.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

my (re)view: The King of Staten Island . 2020

 


Judd Apatow continua a centrar toda a sua carreira de realizador e argumentista em projectos que são uma mistura entre o humor e experiencias menos boas da vida. É fácil criar empatia com os personagens e nos identificarmos com algumas situações ou não fosse a comédia das melhores coisas para saber levar a vida. O actor Pete Davidson que aqui se juntou a Apatow como co-argumentista, transporta para o personagem principal Scott, à semelhança da sua experiência de vida pessoal a morte do pai, bombeiro, que acidentalmente perdeu a vida num incêndio quando este era criança. Scott não tem interesse nenhum em ser bem sucedido, passa os dias sem fazer nada com os amigos e afoga as suas magoas a fumar erva culpando a morte do pai por tudo o que lhe corre mal na vida. Fazemos o percurso habitual dos filmes de Apatow onde a vida dos personagens não podia estar mais caótica e as suas inseguranças se reflectem em decisões constantemente falhadas. Somos capazes de criar empatia por Scott por mais desleixado e pouco esforçado que seja, mergulhando cada vez mais na inércia que é sua vida. Bem equilibrado entre o divertido e o dramático, com performances muito sólidas arrasta-se um bocado na sua excessiva duração. Perde-se talvez demasiado tempo com a teimosia de Scott quando já percebemos qual é a intenção, mas ao chegar ao final chegamos a um lugar que aquece o coração e que podemos classificar de satisfatória como feel-good movie sem pretensiosismos cujo sorriso no rosto e a esperança que dias melhores estão para vir. Um bocado bem passado.

Classifiação final: 3,5/5 estrelas.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

my (re)view: Snowpiercer (season 1 - 2020)

imagem via www.rollingstone.com

Em 2013 o filme Snowpiercer de Bong Joon-ho capturou as atenções de Hollywood, no entanto foi apenas o ano passado que com Parasitas, Joon-ho surpreendentemente superou todas as expectativas para um filme coreano. A verdade é que a qualidade dos seus trabalhos e o sucesso dos seus filmes desde que o mundo começou a olhar para si de maneira diferente é agora evidente. Baseado na série de graphic novels franceses mas acima de tudo no filme de Jonn-ho, este novo Snowpiercer da Netflix tem a mesma premissa de apocalipse gelado onde os unicos sobreviventes no mundo estão dentro de um comboio com 1001 carruagens onde os passageiros estão distribuidos por classes e a igualdade é coisa que continua extinta da pouca Humanidade que sobrou no gelado planeta Terra. Enquanto no filme estamos mais focados na perspectiva dos membros da classe mais baixa do comboio e nos desenvolvimentos da revolução levada a cabo por eles na busca por igualdade social, nesta série apesar da premissa ser igual vamos saltitando entre carruagens e acompanhando momentos de todo o tipo de personagens e o factor surpresa não tem o mesmo impacto. O facto de irmos descobrindo no filme os detalhes ao mesmo tempo que os personagens torna tudo mais emocionante, na série isso é descortinado cada vez mais rapidamente a cada episódio que passa. A metáfora sobre o capitalismo e desigualdade social, não tem a mesma força e passam a ser o relacionamento entre personagens o foco principal. Daveed Diggs e Jennifer Connelly são quem faz com que este comboio não descarrilhe, Alison Wright ajuda mas passamos a temporada toda com escrita básica e nada de novo. A segunda temporada está confirmada e o último episódio deixa algum pano para mangas, mas o vilumbre de melhoria dos seus aspectos não fica definido. Até lá irei pensar se valerá embarcar na próxima carruagem ou não.

Classificação final: 3/5 estrelas.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

my (re)view: Da 5 Bloods . 2020


Spike Lee não poderia ter lançado filme o seu novo filme em melhor altura. Com o movimento Black Lives Matter em força pelo mundo na luta pelas questões raciais e de direitos civis, este drama de guerra sobre um grupo de amigos negros que lutaram na guerra do Vietnam é mais uma visão sobre os traumas de guerra nomeadamente na comunidade afro-americana que seria das primeiras a ser enviada para a linha da frente sem grandes hipoteses de escolha. Um grupo de quatro amigos, regressa ao Vietnam para recolher os restos mortais do amigo que acabou por morrer durante a guerra mas também para recuperar um tesouro por lá perdido. Poderá parecer ao inicio um filme muito mais light do que se vem a revelar com o desenrolar da trama, onde a amizade destes veteranos é posta a prova quando começam a acontecer alguns incidentes pelo caminho. Delroy Lindo é quem tem a performance de maior destaque neste filme, mostrando um homem complicado e marcado pelos fantasmas da guerra cujos sonhos foram destruidos logo em tenra idade. Spike Lee usa e abusa da mensagem politica que sempre pretendeu mostrar nos seus filmes, remetendo-as sempre para as questões de direitos civis na america pois a verdade é que poucas vezes cinematograficamente se mostrou o lado dos negros nesta parte da história americana. As escolhas artisticas de Spike Lee são sempre interessantes, onde supostas imagens reais do passado têm o devido significado e a moral da história é uma mistura de beleza e caos que a própria guerra inflinge em todos aqueles que a enfrentam. Depois do grandioso BlacKkKlansman (2018) Spike Lee não se supera, mas continua em altas.

Classificação final: 4/5 estrelas

sábado, 2 de maio de 2020

my (re)view: Ozark season 1, 2 & 3 (2017- ) . 2020

imagem via imdb.com

A cada temporada o buzz era grande, mas foi só à chegada da terceira temporada que finalmente me rendi aos encantos de Ozark. Uma história que de encanto não tem nada ou não fosse sobre uma família que até podia ser outra qualquer, com os problemas de outra qualquer, com o dia-a-dia de outra qualquer com a particularidade de gerir negócios com o objectivo de lavar dinheiro para um dos maiores cartéis mexicanos a operar em Chicago. Se na primeira temporada vemos o desespero da família Byrde para se livrar das garras do cartel, na segunda vemos a sua ascensão nos negócios já com um plano de saída elaborado, com uma terceira temporada a caminho do descontrolo total mas um pouco de ambição à mistura. Cada vez mais mergulhados no mundo do crime a cada episódio que passa, o casal Marty (Jason Bateman) e Wendy (Laura Linney) vão-se ligando a outros personagens cada vez mais complexos e mais loucos e isso também faz com que o interesse nessas personagens todas  e nas suas histórias não se perca. Toda a sua estética bastante sombria ajuda-nos a submergir na trama trágica definindo um estado de espírito. Com um elenco excepcional que excede as expectativas do que esperamos de personagens com as suas características, todos os actores sabem dar-lhes profundidade nas mais variadas situações, principalemente Jason BatemanLaura Linney e Julia Garner que aqui brilha interpretando a jovem criminosa Ruth Langmore. Apesar de ser uma série que no geral é bem elaborada, com dilemas constantes e questões de moral que nos fazem torcer por várias personagens ao mesmo tempo, mesmo quando não seria ético tomarmos partido dessas mesmas personagens, Ozark por vezes não toma as melhores decisões mas curiosamente isso acaba por não nos incomodar. Ficamos facilmente viciados. Posto isto, mesmo não seguindo muitas vezes o caminho que eu gostaria que seguisse, fez me continuar presa a ela a querer mais e mais, com um nível de satisfação elevado no fim de cada temporada. Se ainda não viram e querem começar uma boa série, esta é sem dúvida uma óptima escolha.

Classificação final: 4,5/5 estrelas.

domingo, 12 de abril de 2020

my (re)view: Sorry We Missed You . 2019

via empireonline.com
Ken Loach volta a dar-nos aquele doloroso murro no estômago. Depois do brilhante I, Daniel Blake (2016) em Sorry We Missed You estamos perante mais um drama social, bastante real e credível que nos desgasta e magoa a cada passo que damos rumo ao futuro de uma família de Newcastle que vive com dificuldades financeiras desde a crise de 2008. Ricky, pai de família com poucos estudos e muitas contas para pagar agarra a oportunidade de trabalhar por conta própria para uma empresa de distribuição de pequenas encomendas e mercadorias. Com dois filhos a estudar e a mulher Abbie a trabalhar como cuidadora de idosos, a vida desta família está longe de ser perfeita e a realidade do dia-a-dia é difícil de gerir. Loach tem o dom de nos fazer acreditar nestas histórias porque todas elas são uma realidade e a naturalidade como tudo se desenrola toca a qualquer um que perceba e compreenda as dificuldades de cada um, pois todos nós nos conseguimos identificar com eles em algum momento e sentir compaixão pelo que estão a viver. Tudo parece real, porque na realidade o cinema pode muito bem ser apenas o retrato fiel de muitas vidas. Ken Loach sabe fazer isso melhor que ninguém. Mais um excelente contributo seu para o cinema cujo retrato da realidade se encaixa perfeitamente numa ficção que tem muito, mas mesmo muito de verdadeira ora não estivéssemos todos os dias a lutar contra as consequências de outrora, com um futuro que nos obriga a saber lutar pelas coisas que precisamos para sobreviver.

Classificação final: 4/5 estrelas.

terça-feira, 31 de março de 2020

my (re)view: Birds of Prey (and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn) . 2020

imagem via variety.com
Derivado a situação dificil que o mundo atravessa, Birds of Prey chega até nós mais depressa do que seria esperado, bem mais cedo até do que provavelmente saíria das salas de cinema. Não é que se pudesse esperar muito deste stand-alone, mas a verdade é que até superou aquilo que estava à espera. Muita da sua força e alegria advém da fantástica performance de Margot Robbie neste papel que é mais desafiante do que possa parecer numa personagem que mistura loucura e diversão mas com uma enorme componente emocional onde a abordagem da doença mental aparece de forma sublimilar. É Harley Quinn que narra a história que temporalmente se passa num cenário pós Suicide Squad (2016) onde a sua relação com Joker terminou e é hora de mostrar o que vale sozinha sem o rótulo de namorada do assassino mais louco de Gotham. Para sobreviver Quinn junta-se a um dos maiores vilões de Gotham, Roman Sionis (Ewan McGregor) mas as coisas descontrolam-se um pouco, ou não fosse ela assim mesmo. A loucura de Harley Quinn é absolutamente bem transportada para dentro deste filme, onde todo o ambiente louco nos remete para as caracteristicas desta personagem da DC Comics, onde a timeline é ela também diferente, as cenas de acção bem coreografadas e a banda sonora a condizer com os momentos. Fica a faltar apenas um background mais coeso das personagens secundárias e também uma maior solidez na narrativa contendo pormenores pouco desenvolvidos. Resta-nos apreciar a loucura de Harley Quinn fabulásticamente interpretada pela talentosíssima Margot Robbie. Podia ser melhor, mas caramba diverte muito!

Classificação: 3/5 estrelas.

terça-feira, 24 de março de 2020

my (re)view: The Invisible Man . 2020

imagem via time.com

É muito difícil surpreender dentro do género do terror hoje em dia, se bem que eu não inseria The Invisible Man propriamente dentro desse género. É mais um thriller de ficção cientifica com alguns sustos à mistura, mas que funciona muito melhor pela mensagem que quer passar do que pelas semalhanças que possa ter com mais um mero filme de terror como aparentemente nos possa parecer. Para quem vá à espera da habitual história de fantasmas e das suas vinganças para além da morte, enganem-se. The Invisible Man consegue ser bem sucedido tomando decisões inteligentes apesar de irmos facilmente ligando os pontos da história. Cecile vive atormentada há muitos anos, presa a uma relação abusiva com Adrian, um riquissimo cientista obssessivo, da qual ganhou finalmente coragem para se ver livre. Já em segurança em casa de um amigo e após saber que o ex-namorado se suicidou, Cecile nunca imaginaria que o seu tormento continuaria mesmo depois do desaparecimento de Adrian. Um filme que vive bastante de silencios e de movimentos lentos ou estáticos de camera que intimidam bastante. Tudo isto mais a fantástica performance de Elisabeth Moss que incorpora na perfeição todo o terror vivido por uma vitima de violência doméstica. Para além da parte ficcional, este é um filme cuja mensagem excede aquilo que a ficção quer mostrar e por isso mesmo Moss faz-nos ganhar um carinho muito especial pela personagem que sofre psicologicamente dia-a-dia e que transparece de forma angustiante todo esse tormento. O realizador Leigh Whannell já é experiente nestas andanças quer do terror quer do sci-fi, mas aqui encontramos uma obra que apesar de alguma previsibilidade vale muito a pena pela experiência e pela forma como mexe connosco utilizando técnicas muito boas para o fazer.

Classificação 4/5 estrelas.

sábado, 21 de março de 2020

my (re)view: Waves . 2019

imagem via empireonline.com
Reacção imediata: wow. Realista, envolvente, absolutamente honesto. Waves não se deixa levar pela forma bonita de encarar as coisas más na vida e mostra como tudo pode desabar de um dia para o outro. É nos contada a história de Tyler um jovem do secundário de uma familia afro-americana de classe média alta, cujos sonhos parecem ter tudo para se concretizar, mas as peças do seu dominó vão cair mais depressa do que ele pode imaginar. Começamos com um ritmo agradável, digno de romance dos tempos antigos, mas a medida que a história de desenvolve vamos escalando de intensidade e percebemos que alguma coisa não está bem como aparentemente parecia estar. A fúria e a raiva acumulada começa a transbordar naquilo que se revela uma experiência angustiante e de ansiedade, mas neste caso no bom sentido. Trey Edward Shults que realizou em 2017 o interessante It Comes At Night, explora aqui todo o tipo de sentimentos ao mesmo tempo que opta por uma estética bastante diferente que por si só também ela conta a história, assim como a sua banda sonora. Kelvin Harrison Jr. é a meu ver uma das jovens promessas de Hollywood, se já me tinha surpreendido em Luce aqui continua a mostrar ao mundo o quão grandioso pode ser. Sterling K. Brown e Taylor Rusell também impressionam bastante, digamos que numa segunda fase deste filme onde lidamos com as consequências duras da dita primeira. Podemos dividir o filme em duas partes, uma absolutamente desgastante e outra mais reconfortante, chegando ao fim com uma sensação de que acabamos de assistir a algo de extrema qualidade, qualidade essa a que a produtora A24 já nos habituou. Daqueles filmes que devia ter visto mais cedo e se o tivesse feito teria entrado no top dos favoritos do ano passado.

Classificação: 4,5/5 estrelas.

domingo, 15 de março de 2020

my (re)view: The Gentlemen . 2020

imagem via sfreporter.com
Guy Ritchie de volta à velha formula, melhor que nunca e 2020 no cinema começa agora!! Diverti-me como já não me divertia há algum tempo com twists and turns, humor mas também suspense com muito estilo gangster à mistura. Co-escrito e realizado por Guy Ritchie, The Gentlemen é totalmente dedicado à boa forma como o crime e o suspense se equilibram com a comédia e os diálogos virtuosos e inteligentes. Ritchie popularizou-se com Lock, Stock and Two Smoking Barrels (1998) e Snatch (2000) que viriam a ditar qual o estilo em que ele se sentiria mais a vontade para criar e o resultado deste seu novo filme é que ele continua a saber fazer bons filmes, apesar dos percalços dos últimos anos. A história é sólida, sobre o mundo dos lords da droga ao jeito british da coisa, mesmo quando o maior de todos eles é um americano desde quase sempre nas terras de sua majestade. O forte elenco faz um trabalho extraordinário, onde todos têm o seu destaque, onde nenhum personagem se sobrepõe ao outro e todos encontram a sua importância algures no enredo. Apesar do óptimo trabalho dos actores é de destacar a incrível interpretação de Hugh Grant e Colin Farrell que se distanciam do que habitualmente costumam fazer, principalmente Grant. The Gentlemen não só é tudo aquilo que podíamos esperar dele, é ainda mais. Nada melhor que ver Guy Ritchie a fazer um filme à Guy Ritchie.

Classificação final: 4,5/5 estrelas.

sexta-feira, 6 de março de 2020

my (re)view: Dark Waters . 2019

imagem via theguardian.com
Há muito que se explora no cinema as mais variadas teorias da conspiração e se denunciam graves situações. Todd Haynes já provou que consegue fazê-lo como ninguém. Dark Waters baseia-se no caso real do advogado Robert Billot e da batalha legal de vinte anos contra a empresa de químicos DuPont, acusada de fazer despejos tóxicos no estado do West Virgina ao longo de vários anos, pondo em causa a saúde da população e dos seus animais, chegando a causar varias mortes ao longo desses anos. Mark Ruffalo interpreta este advogado que decide ajudar um agricultor local na luta contra a gigante DuPont. Ruffalo, como belissimo actor que é, opta por um retrato frágil de uma postura bastante recatada demonstrando que com esforço e dedicação se consegue tudo, mesmo que seja contra alguém muito mais imponente que nós. Uma interpretação com uma componente física fundamental que significa muito. Vamos ficando aos poucos cada vez mais envolvidos no mistério deste thriller partilhando quase que do mesmo sentimento paranoico de Rufallo pela busca de respostas ao estilo dos bons clássicos de antigamente. Um filme que passou ao lado de muitos o ano passado e que merecia mais destaque, pela história, pelo protagonista mas a cima de tudo pelas escolhas inteligentes e criativas de Todd Haynes.

Classificação final: 4/5 estrelas.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

my (re)view: 1917 . 2019

Imagem via variety.com
Podemos sentir emoção em várias situações ou várias experiências na vida, mas podem ser tão boas as emoções reais, como aquelas que chegam até nós das mais variadas maneiras. 1917 é um todo de emoção. Uns queixam-se que há pouco sangue, outros que não demonstra a crueldade da guerra, mas se há obra difícil de concretizar com exito é um drama de guerra épico em plano sequencial - ou neste caso editado de forma brilhante para parecer isso mesmo! - que emociona a cada minuto. 1917, oitavo filme de Sam Mendes é uma homenagem ao seu avó e as memórias que trouxe da Primeira Grande Guerra, o trabalho mais pessoal do realizador britânico que já nos presenteou com outros grandes filmes como Jarhead (2005) ou Revolutionary Road (2008), desta vez eleva imenso a fasquia do que em qualquer dos seus outros filmes. Sendo este um filme bastante pessoal para Mendes, nota-se a paixão que colocou nele, com uma qualidade técnica de se tirar o chapéu, ainda mais quando o desafio era fazê-lo dando uma sensação presencial em tempo real acompanhando uma jornada dolorosa. Dá-nos uma sensação constante de ansiedade e emoção, seguindo os dois personagens principais, sentindo que estamos com eles durante todo aquele percurso. A premissa é bastante simples, mas muito eficaz e por vezes não são precisas histórias complexas para um filme nos encher as medidas. A mestria do cinematografo Roger Deakins faz com que tudo seja ainda mais belo, onde imagens valem mais que palavras. Um dos melhores filmes a nível técnico que já vimos nos últimos anos, talvez dos mais bem concretizados da década.

Classificação final: 5/5.