sexta-feira, 21 de agosto de 2020

my (re)view: The King of Staten Island . 2020

 


Judd Apatow continua a centrar toda a sua carreira de realizador e argumentista em projectos que são uma mistura entre o humor e experiencias menos boas da vida. É fácil criar empatia com os personagens e nos identificarmos com algumas situações ou não fosse a comédia das melhores coisas para saber levar a vida. O actor Pete Davidson que aqui se juntou a Apatow como co-argumentista, transporta para o personagem principal Scott, à semelhança da sua experiência de vida pessoal a morte do pai, bombeiro, que acidentalmente perdeu a vida num incêndio quando este era criança. Scott não tem interesse nenhum em ser bem sucedido, passa os dias sem fazer nada com os amigos e afoga as suas magoas a fumar erva culpando a morte do pai por tudo o que lhe corre mal na vida. Fazemos o percurso habitual dos filmes de Apatow onde a vida dos personagens não podia estar mais caótica e as suas inseguranças se reflectem em decisões constantemente falhadas. Somos capazes de criar empatia por Scott por mais desleixado e pouco esforçado que seja, mergulhando cada vez mais na inércia que é sua vida. Bem equilibrado entre o divertido e o dramático, com performances muito sólidas arrasta-se um bocado na sua excessiva duração. Perde-se talvez demasiado tempo com a teimosia de Scott quando já percebemos qual é a intenção, mas ao chegar ao final chegamos a um lugar que aquece o coração e que podemos classificar de satisfatória como feel-good movie sem pretensiosismos cujo sorriso no rosto e a esperança que dias melhores estão para vir. Um bocado bem passado.

Classifiação final: 3,5/5 estrelas.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

my (re)view: Snowpiercer (season 1 - 2020)

imagem via www.rollingstone.com

Em 2013 o filme Snowpiercer de Bong Joon-ho capturou as atenções de Hollywood, no entanto foi apenas o ano passado que com Parasitas, Joon-ho surpreendentemente superou todas as expectativas para um filme coreano. A verdade é que a qualidade dos seus trabalhos e o sucesso dos seus filmes desde que o mundo começou a olhar para si de maneira diferente é agora evidente. Baseado na série de graphic novels franceses mas acima de tudo no filme de Jonn-ho, este novo Snowpiercer da Netflix tem a mesma premissa de apocalipse gelado onde os unicos sobreviventes no mundo estão dentro de um comboio com 1001 carruagens onde os passageiros estão distribuidos por classes e a igualdade é coisa que continua extinta da pouca Humanidade que sobrou no gelado planeta Terra. Enquanto no filme estamos mais focados na perspectiva dos membros da classe mais baixa do comboio e nos desenvolvimentos da revolução levada a cabo por eles na busca por igualdade social, nesta série apesar da premissa ser igual vamos saltitando entre carruagens e acompanhando momentos de todo o tipo de personagens e o factor surpresa não tem o mesmo impacto. O facto de irmos descobrindo no filme os detalhes ao mesmo tempo que os personagens torna tudo mais emocionante, na série isso é descortinado cada vez mais rapidamente a cada episódio que passa. A metáfora sobre o capitalismo e desigualdade social, não tem a mesma força e passam a ser o relacionamento entre personagens o foco principal. Daveed Diggs e Jennifer Connelly são quem faz com que este comboio não descarrilhe, Alison Wright ajuda mas passamos a temporada toda com escrita básica e nada de novo. A segunda temporada está confirmada e o último episódio deixa algum pano para mangas, mas o vilumbre de melhoria dos seus aspectos não fica definido. Até lá irei pensar se valerá embarcar na próxima carruagem ou não.

Classificação final: 3/5 estrelas.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

my (re)view: Da 5 Bloods . 2020


Spike Lee não poderia ter lançado filme o seu novo filme em melhor altura. Com o movimento Black Lives Matter em força pelo mundo na luta pelas questões raciais e de direitos civis, este drama de guerra sobre um grupo de amigos negros que lutaram na guerra do Vietnam é mais uma visão sobre os traumas de guerra nomeadamente na comunidade afro-americana que seria das primeiras a ser enviada para a linha da frente sem grandes hipoteses de escolha. Um grupo de quatro amigos, regressa ao Vietnam para recolher os restos mortais do amigo que acabou por morrer durante a guerra mas também para recuperar um tesouro por lá perdido. Poderá parecer ao inicio um filme muito mais light do que se vem a revelar com o desenrolar da trama, onde a amizade destes veteranos é posta a prova quando começam a acontecer alguns incidentes pelo caminho. Delroy Lindo é quem tem a performance de maior destaque neste filme, mostrando um homem complicado e marcado pelos fantasmas da guerra cujos sonhos foram destruidos logo em tenra idade. Spike Lee usa e abusa da mensagem politica que sempre pretendeu mostrar nos seus filmes, remetendo-as sempre para as questões de direitos civis na america pois a verdade é que poucas vezes cinematograficamente se mostrou o lado dos negros nesta parte da história americana. As escolhas artisticas de Spike Lee são sempre interessantes, onde supostas imagens reais do passado têm o devido significado e a moral da história é uma mistura de beleza e caos que a própria guerra inflinge em todos aqueles que a enfrentam. Depois do grandioso BlacKkKlansman (2018) Spike Lee não se supera, mas continua em altas.

Classificação final: 4/5 estrelas

sábado, 2 de maio de 2020

my (re)view: Ozark season 1, 2 & 3 (2017- ) . 2020

imagem via imdb.com

A cada temporada o buzz era grande, mas foi só à chegada da terceira temporada que finalmente me rendi aos encantos de Ozark. Uma história que de encanto não tem nada ou não fosse sobre uma família que até podia ser outra qualquer, com os problemas de outra qualquer, com o dia-a-dia de outra qualquer com a particularidade de gerir negócios com o objectivo de lavar dinheiro para um dos maiores cartéis mexicanos a operar em Chicago. Se na primeira temporada vemos o desespero da família Byrde para se livrar das garras do cartel, na segunda vemos a sua ascensão nos negócios já com um plano de saída elaborado, com uma terceira temporada a caminho do descontrolo total mas um pouco de ambição à mistura. Cada vez mais mergulhados no mundo do crime a cada episódio que passa, o casal Marty (Jason Bateman) e Wendy (Laura Linney) vão-se ligando a outros personagens cada vez mais complexos e mais loucos e isso também faz com que o interesse nessas personagens todas  e nas suas histórias não se perca. Toda a sua estética bastante sombria ajuda-nos a submergir na trama trágica definindo um estado de espírito. Com um elenco excepcional que excede as expectativas do que esperamos de personagens com as suas características, todos os actores sabem dar-lhes profundidade nas mais variadas situações, principalemente Jason BatemanLaura Linney e Julia Garner que aqui brilha interpretando a jovem criminosa Ruth Langmore. Apesar de ser uma série que no geral é bem elaborada, com dilemas constantes e questões de moral que nos fazem torcer por várias personagens ao mesmo tempo, mesmo quando não seria ético tomarmos partido dessas mesmas personagens, Ozark por vezes não toma as melhores decisões mas curiosamente isso acaba por não nos incomodar. Ficamos facilmente viciados. Posto isto, mesmo não seguindo muitas vezes o caminho que eu gostaria que seguisse, fez me continuar presa a ela a querer mais e mais, com um nível de satisfação elevado no fim de cada temporada. Se ainda não viram e querem começar uma boa série, esta é sem dúvida uma óptima escolha.

Classificação final: 4,5/5 estrelas.

domingo, 12 de abril de 2020

my (re)view: Sorry We Missed You . 2019

via empireonline.com
Ken Loach volta a dar-nos aquele doloroso murro no estômago. Depois do brilhante I, Daniel Blake (2016) em Sorry We Missed You estamos perante mais um drama social, bastante real e credível que nos desgasta e magoa a cada passo que damos rumo ao futuro de uma família de Newcastle que vive com dificuldades financeiras desde a crise de 2008. Ricky, pai de família com poucos estudos e muitas contas para pagar agarra a oportunidade de trabalhar por conta própria para uma empresa de distribuição de pequenas encomendas e mercadorias. Com dois filhos a estudar e a mulher Abbie a trabalhar como cuidadora de idosos, a vida desta família está longe de ser perfeita e a realidade do dia-a-dia é difícil de gerir. Loach tem o dom de nos fazer acreditar nestas histórias porque todas elas são uma realidade e a naturalidade como tudo se desenrola toca a qualquer um que perceba e compreenda as dificuldades de cada um, pois todos nós nos conseguimos identificar com eles em algum momento e sentir compaixão pelo que estão a viver. Tudo parece real, porque na realidade o cinema pode muito bem ser apenas o retrato fiel de muitas vidas. Ken Loach sabe fazer isso melhor que ninguém. Mais um excelente contributo seu para o cinema cujo retrato da realidade se encaixa perfeitamente numa ficção que tem muito, mas mesmo muito de verdadeira ora não estivéssemos todos os dias a lutar contra as consequências de outrora, com um futuro que nos obriga a saber lutar pelas coisas que precisamos para sobreviver.

Classificação final: 4/5 estrelas.

terça-feira, 31 de março de 2020

my (re)view: Birds of Prey (and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn) . 2020

imagem via variety.com
Derivado a situação dificil que o mundo atravessa, Birds of Prey chega até nós mais depressa do que seria esperado, bem mais cedo até do que provavelmente saíria das salas de cinema. Não é que se pudesse esperar muito deste stand-alone, mas a verdade é que até superou aquilo que estava à espera. Muita da sua força e alegria advém da fantástica performance de Margot Robbie neste papel que é mais desafiante do que possa parecer numa personagem que mistura loucura e diversão mas com uma enorme componente emocional onde a abordagem da doença mental aparece de forma sublimilar. É Harley Quinn que narra a história que temporalmente se passa num cenário pós Suicide Squad (2016) onde a sua relação com Joker terminou e é hora de mostrar o que vale sozinha sem o rótulo de namorada do assassino mais louco de Gotham. Para sobreviver Quinn junta-se a um dos maiores vilões de Gotham, Roman Sionis (Ewan McGregor) mas as coisas descontrolam-se um pouco, ou não fosse ela assim mesmo. A loucura de Harley Quinn é absolutamente bem transportada para dentro deste filme, onde todo o ambiente louco nos remete para as caracteristicas desta personagem da DC Comics, onde a timeline é ela também diferente, as cenas de acção bem coreografadas e a banda sonora a condizer com os momentos. Fica a faltar apenas um background mais coeso das personagens secundárias e também uma maior solidez na narrativa contendo pormenores pouco desenvolvidos. Resta-nos apreciar a loucura de Harley Quinn fabulásticamente interpretada pela talentosíssima Margot Robbie. Podia ser melhor, mas caramba diverte muito!

Classificação: 3/5 estrelas.