quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

my (re)view: Star Wars: The Rise of Skywalker . 2019

Imagem via imdb.com
As minhas expectativas para o suposto final da saga Star Wars não eram as maiores. Todos sabemos que a trilogia original com os episódios IV, V e VI é um grande marco no sci-fi e que os episódios I, II e III foram algo que podiamos passar bem sem eles, mas quando J. J. Abraams fez renascer mais uma vez a saga, com personagens novos e cheios de carisma no episódio VII havia esperança na continuação desta história. Rian Johnson agarrou com garra o episódio VIII, mas J. J. Abraams regressou à saga depois de Colin Trevorrow ter saído por divergências criativas com a Disney. Mau sinal, o alerta começou logo aí! Rey (Daisy Ridley) era uma belissíma protagonista e Finn (John Boyega) também tinha o lado aventureiro e destemido que a saga precisava, mas chegarmos ao final de mais um ciclo e constatar a falta de cuidado que houve pela história, pelos personagens e a quantidade de situações que não fazem sentido ou simplesmente surgem de forma patética é triste. Rey torna-se desinteressante e irritante, Finn não tem qualquer relevância e até Ben (Adam Driver) se tranforma naquilo que todos os vilões mais temem, quando o verdadeiro vilão Palpatine revolve renascer com um plano maquiavélico quase que inventado à pressão. Estes filmes são feito a cima de tudo para passarmos uma boa experiência de cinema, quer a nível visual quer a nível de história, mas o poder narrativo é tão fraco e pouco esforçado que os caminhos mais fáceis e desinteressantes que podiam existir foram utilizados. Quando tudo tenta ser demasiado perfeitinho, deixa de surpreender e se era suposto ser empolgante falha no entusiasmo, com desilusão atrás de desilusão pelas escolhas correctas demais que optou por tomar. Um final nada glorioso, de uma saga que apesar disso continuará a fazer sonhar gerações e gerações.

Classificação final: 2/5 estrelas.

domingo, 8 de dezembro de 2019

my (re)view: Marriage Story . 2019

Imagem via variety.com
Pode dizer-se que Marriage Story é um filme bastante denso. Denso nos sentimentos, denso nas palavras, denso naquilo que significa ser feliz e valorizado quando colocamos o amor e a felicidade de outros em primeiro lugar numa relação, e deixamos para trás o nosso bem estar emocional. Noah Baumbach (Frances Ha 2012) escreve e realiza de forma crua, verdadeira mas também divertida aquilo que podiam ser situações perfeitamente normais entre um casal à beira da ruptura e com naturalidade percebemos cada um dos lados e identificamo-nos com algumas situações. Existem momentos de uma intensidade tamanha que elevam este filme a muito mais do que uma história sobre um divórcio. Esses momentos transmitem dor e sofrimento e é impossível não ficarmos tristes e abalados com o que estamos a ver. Os diálogos entre personagens são perfeitamente credíveis e espontâneos, cheios de raiva e angústia mas também cheios de amor e tudo se sente como verdadeiro, pois esta podia ser a história de cada um de nós ou de qualquer outra pessoa que já conhecemos na nossa vida. Scarlett Johansson tem a meu ver a melhor performance da sua carreira e Adam Driver mostra mais uma vez porque é dos melhores actores da actualidade e quem diria que química entre os dois resultaria tão bem. Chegamos ao fim de Marriage Story completamente de rastos depois de termos levado uns quantos murros no estômago. A beleza da sua honestidade tocará a todos disso tenho a certeza.

Classificação final: 4,5/5.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

my (re)view: The Irishman . 2019

imagem via bostonhassle.com
A maneira como vemos e apreciamos um filme vai mudando consoante o nosso gosto, mas acima de tudo vai acompanhando o nosso crescimento intelectual. Com Martin Scorsese aprendi que o meu gosto por cinema tinha um grande impacto na minha vida. Talvez sem os filmes dele e o que significavam para mim nunca me teria apercebido disso. Quando me perguntam qual é o meu género preferido de filme, digo imediatamente “gangster” e isso deve-se à forma magistral como Scorsese introduziu esta vertente no cinema. Mas vamos focar-nos no que interessa, The Irishman - o meu filme mais aguardado do ano, com um elenco de luxo, o tema do costume com os suspeitos do costume. E tal como o crescimento que falava anteriormente, este é um outro nível Scorsese, com a maturidade que todos estes bosses precisavam e só um homem podia fazer. Nunca me senti tão triste a ver um filme deste género e não digo isto de forma depreciativa. Essa tristeza vai aumentando até ficarmos totalmente desgastados, destroçados e é incrível evidenciar a eficácia com que isso se sente. De novo, o rise and fall de um outcast com muita sorte e o quanto o peso dessa sorte pode transformar-se num enorme vazio. Sente se uma melancolia cada vez maior e existe uma tensão crescente que só Thelma Schoonmaker sabe impecavelmente criar com a sua estratégica e detalhada edição. Ao contrário do ritmo energético de Goodfellas (1990) e Casino (1995), Martin Scorsese foca-se apenas nas relações entre um triângulo de amizades com ligações à máfia e das consequências das acções através de uma abordagem mais específica, pesada e madura. Frank Sheeran (Robert De Niro) conhecido como "the irishman" dedicou a sua vida a cumprir ordens de outros, deixando para trás o papel de homem comum na sociedade. Quando este passa de condutor de pesados a assassino contratado pelo chefe mafioso Russel Bufalino (Joe Pesci), vai ganhando a sua confiança demonstrando lealdade ao longo de décadas, vindo a ser mais tarde a sua amizade com Jimmy Hoffa (Al Pacino) a chave para o que Frank tinha de mais parecido com uma vida normal. Scorsese sempre foi um bom comandante e cada vez mais prova que é mestre da perfeição. A firmeza e intensidade entre actores é tão poderosa, não só graças aos dotes de interpretações destes gigantes como do argumento onde o desenvolvimento de personagens só podia ser bem conseguido pelo facto do filme nos dar esse tempo necessário para os podermos compreender. Cada etapa e cada decisão fica mais descomplicada de perceber assim que vamos conhecendo melhor os protagonistas e a pureza da sua amizade. The Irishman acaba por não ser só um filme de gangsters, é também a história de um homem cujas escolhas mais importantes da vida foram trocadas por momentos de poder e promessas que no final não restaram. Nos dias de hoje parece que é cada vez mais difícil agradar a todos, mas caramba, quem não concordar com a beleza cinematográfica que isto é não sei em que mundo vive.

Classificação final: 5/5.

domingo, 1 de dezembro de 2019

my (re)view: Luce . 2019

imagem via thespool.net
Vivemos num mundo onde inconscientemente nos julgamos uns aos outros todos os dias, tentando adivinhar o que cada um pensa ou sente quando confrontamos com situações mais delicadas. O melhor de Luce é dar importância a isso mesmo. Durante o filme observamos o jovem Luce (Kelvin Harrison Jr.) a ser questionado e julgado por professores, amigos e família quer sejam essas afirmações sobre as suas acções verdadeiras ou falsas. Pensamos constantemente se os seus sentimentos e atitudes serão sinceros ou produto de uma mente que vê o mundo ao seu redor a fazer lhe imposições sobre a maneira como tem que se comportar, falar e até pensar. E é por isso mesmo que este filme se transforma num retrato tão bom do que a sociedade se está a tornar e da forma como a opinião da sociedade deve ou não influenciar a nossa maneira de estar. Não percebemos bem quem são os heróis ou quem são os vilões quando na verdade somos por vezes moldados aos olhos de outros para agradar a uma maioria. O filme tem um papel muito importante na questão interacial assim como social passando por temas sensíveis da actualidade. É também um filme de excelentes actuações com veteranos como Naomi Watts, Tim Roth e Octavia Spencer a brilhar ao lado da maior estrela deste filme de seu nome Kelvin Harrison Jr. o novato que mostra estar à altura de todos os outros. Luce podia ser só mais uma história sobre um adolescente conturbado, mas eleva-se pelo suspense e forma como mexe connosco emocionalmente. Bem escrito, bem montado, com grandes interpretações e óptima banda sonora, Luce é daqueles filmes que se transformam em experiências cinematográficas que permanecem connosco depois de acabarem.

Classificação final: 4,5/5.