quarta-feira, 25 de setembro de 2019

my (re)view: A Herdade . 2019


Enganem-se aqueles que pensam que o cinema português não está à altura do que se faz no estrangeiro. Enganem-se aqueles que acreditam que todos os filmes do nosso país são de fraca qualidade. Quando falamos de A Herdade, enganem-se aqueles que estão à espera de mais um filme que deixa a desejar. O que se faz por cá tem vindo a melhorar e bastante, basta só começarmos a prestar mais atenção. Uma história bem portuguesa, onde as raízes da nossa cultura estão à superfície num contexto histórico e político de um Portugal não muito longínquo. Passando por várias décadas dos anos 40 aos 90, acompanhamos os vários elementos da família Fernandes e daqueles que para ela trabalham, numa das maiores herdades do Alentejo ao comando de Miguel Fernandes impecavelmente interpretado por Albano Jerónimo ou não fosse ele um dos melhores actores que temos neste país. Todos os momentos de Albano Jerónimo no ecrã são poderosos, como que hipnotizantes, demonstrando o poder do seu personagem e daquilo que ele representa nesta história. Sandra Faleiro é grandiosa também. A primeira metade do filme é sublime, bem conseguida e equilibrada em todos os aspectos. A segunda metade peca um pouco pela repetição caindo em demasia no melodrama, tornando-se mais banal do que eu gostaria, redimindo-se num último acto que recupera o poder e a importância central de toda a narrativa. Tiago Guedes consegue aqui através de uma realização ambiciosa, planos belíssimos, iluminação perfeita, banda sonora curta mas esplêndida e a cinematografia deslumbrante de João Lança Morais, uma mística e um magnetismo forte que nos envolve durante quase três horas de duração sem darmos pelo tempo passar. Não é um filme perfeito, mas diz muito sobre aquilo que fomos e continuamos a ser como nação. Por vezes silêncios tem mais poder do que as palavras e os segredos não são eternos.

Classificação final: 3,5/5.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

my (re)view: Midsommar . 2019


De tempos a tempos aparece aquele em um milhão que marca realmente a diferença. Não é aquele que é adorado por todos, mas é aquele que com um jeito único faz a magia do cinema acontecer. Ari Aster é desses um em um milhão e nesta nova vaga do horror, e no meio deste momento de originalidade dentro do género nos últimos anos, são os filmes de Aster aqueles que mais se destacam. E antes de Midsommar não são muitos, é apenas um na verdade, a sua primeira longa metragem, Hereditary do ano passado, que fez com que o mundo começasse a falar dele como se de há muitos anos o conhecêssemos. Também argumentista dos seus filmes, Ari Aster continua a conjugar longos planos pela beleza da cinematografia com inúmeras influências de alguns dos seus realizadores favoritos, misturando uma banda sonora que nos envolve totalmente na história e momentos que mexem connosco física e psicologicamente. Fê-lo em Hereditary, fá-lo novamente em Midsommar. A história da relação entre Dani e Christian que na tentativa de a resgatar, viajam para a Suécia a convite de uns amigos para festejar as celebrações de solestício de verão. O que aparentemente seriam umas férias descontraídas acaba por se ir revelando numa experiência cada vez mais estranha e perturbadora. A dor da perda é novamente abordada por Aster de uma forma tão incomoda que se torna verdadeira e esquecemos que estamos a ver um filme. Quem diria que o horror às claras podia ser assim tão perturbador? Ficamos claramente a pensar sobre o que vimos durante dias e algumas teorias se levantam. Um dos aspectos mais curiosos do filme é como o humor negro resulta super bem no meio de toda a sua estranheza e de como o equilíbrio entre esses momentos e os mais tensos acontece. Fica também a menção à fabulosa Florence Pugh, a actriz revelação do momento a quem devemos claramente continuar de olho. Depois da visualização do filme Ari Aster convidado especial da 13ª Edição do Motelx (qual tive a alegria de estar presente) partilhou algumas curiosidades sobre a história e produção o que tornou toda a experiência ainda mais interessante. Fica a água na boca para a versão directors cut com cenas que não puderam ser incluídas na versão theatrical do filme. É um forte candidato a meu filme favorito do ano e só não me pronuncio mais fortemente a cerca disso, porque um senhor chamado Scorsese tem este ano algo para nos mostrar.

Classificação final: 5/5.

sábado, 14 de setembro de 2019

my (re)view: Swallow . 2019


Suscitou a minha curiosidade depois de algumas críticas que li aquando da sua passagem pelo Sundance Film Festival no início desde ano e quando vi que Swallow faria parte do cartaz do Motelx, não queria perder a oportunidade de o ver. Conta a história bizarra de uma mulher de classe alta que de repente sente uma enorme compulsividade em ingerir os mais variados objectos. Na verdade, toda a estética meio vintage meio avantgarde é aquilo que salta mais a vista. Planos bem filmados, atenção ao detalhe nos cenários, cinematografia absolutamente incrível. Destaca-se também a brilhante e dolorosa (no bom sentido) performance de Haley Bennett que só não envolve mais devido ao insignificante poder de um argumento que podia ter arriscado mais, quer em diálogos quer em storytelling. O desenvolvimento de personagens é muito fraco e fiquei sem saber se o ridículo de algumas situações eram propositadas ou apenas fruto de uma má escrita. Numa história onde o principal é sabermos o porquê de uma compulsão, o filme obriga-nos sempre a focar-nos na vida luxuosa mas triste e vazia que a protagonista enfrenta, tendo sempre mais necessidade de mostrar a vida da dona de casa desesperada do que provocar o espectador ou causar-lhe algum tipo de sentimento perante o desespero daquela mulher cuja estranha vontade acaba por ter um porquê, que quando revelado não causa o impacto devido. Perdemos demasiado tempo com os clichés da família abastada tipicamente americana, quando se queria ver mais a parte psicológica e invulgar da questão.

Classificação final: 2,5/5.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

my (re)view: Ma . 2019


Depois de The Help e The Girl on the Train assim continua Tate Taylor pelos mais variados contos sobre donas de casa, que só não digo desesperadas para não ser pouco original tal como este seu filme, do qual nem percebemos bem a intenção. Ma conta a história de uma mulher de meia idade, aparentemente inofensiva, que se presta a ajudar um grupo de adolescentes comprando-lhes alcool, dando festas sem regras na sua casa, com o objectivo de se tornar amiga deles. Se existem momentos grotescos e de alguma violência a nível visual, também existem aqueles em que o tom do filme foge para a comédia e algumas coisas deixam de fazer sentido. A falta de originalidade acaba por o prejudicar e nem as capacidades de interpretação de Octavia Spencer, que tenta dar o seu melhor, safam o filme na generalidade. Ma aborda alguns dos temas mais relevantes sobre a adolescência, como o bullying, no entanto não os sabe aproveitar da melhor maneira e é também essa mistura mal estruturada que faz com que a narrativa se torne previsivel o que para mim acabou por ser aborrecido. Pouco mais se aproveita deste filme sem ser o desempenho de Spencer que se revela uma óptima e assustadora psicopata. Já a nível de realização pouco ou nada há a destacar. É mais um daqueles casos em que o potencial era bem maior do que foi concretizado.

Classificação final: 2,5/5.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

my (re)view: Mindhunter Season 1 & 2 . (2017- )


Para quem gosta dos temas em torno dos mistérios da mente dos criminosos isto é simplesmente das coisas mais magnificas dentro do género já alguma vez feitas! Mindhunter é a serie da Netflix que segue dois investigadores do FBI, Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt McCallany), exploradores da mente perversa de assassinos aos quais tentam perceber as suas motivações com a intenção de criar perfis que ajudem a prevenir e travar outros crimes no futuro. Estes dois agentes são inspirados em duas pessoas reais John E. Douglas e Robert K. Ressler que registaram entre os anos 70 e 80 entrevistas com alguns dos criminosos mais perigosos de sempre pelas prisões dos Estados Unidos e o mais incrível é que todos os detalhes que ouvimos relatados na serie são verídicos, tendo surgido na altura por estes dois homens a expressão "serial killers" que associamos hoje em dia a assassinos em série. Criado por Joe Penhall com a maior parte dos episódios realizados por David Fincher é notória a enorme influência do seu estilo cinematográfico ao longo de toda a série, sendo isso também uma das coisas que a caracteriza e símbolo da qualidade e meticulosidade presente em todos os seus trabalhos. É impressionante como ficamos viciados facilmente por uma série muito sustentada por poderosos diálogos com pormenores que aterrorizam muitas vezes mais que imagens. Da primeira para a segunda temporada, é notório o desenvolvimento de personagens, e isso também é uma das suas mais valias. O ritmo é lento, mas o tema assim o requer e não é por isso menos interessante, antes pelo contrário. A escrita é inteligente e os dois personagens principais não se podiam completar melhor. Enquanto Tench é o típico agente cauteloso com os pés mais assentes na terra, Ford tem uma maneira mais apaixonada e imprudente de explorar os casos. É bastante curioso como o narcisismo presente em todos os assassinos se torna presença constante em vários aspectos criando também um padrão forte também ele presente nos mais variados personagens da história, onde as suas leituras e atitudes se revelam demonstrando as nuances de personalidade de cada um, que por vezes não são assim tão diferenciadas. Mais que um thriller é um estudo do ser humano, feito com requinte e extrema qualidade. A terceira temporada de Mindhunter ainda não está confirmada mas seria um crime não apostar nela.

Classificação final: 5/5