quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Crítica: Lixo (Trash) 2014


Data de Estreia: 30-10-2014

O mais recente trabalho do realizador Stephen Daldry (As Horas, O Leitor ou Extremamente Alto Incrívelmente Perto) pode ser inicialmente confundido com uma produção brasileira. Politicamente incorrecto, descaradamente abordando mais uma vez a corrupção que existe no Brasil falha quando não consegue levar a sério o lado provocatório da questão. Um filme sobre três crianças que por ironia do destino vão acabar a importante missão de um homem. Sem quaisquer medos, os meninos embarcam numa aventura que acaba por se tornar bastante perigosa.

Infelizmente pode dizer-se que Stephen Daldry tentou realizar uma versão pobre do fantástico Quem Quer Ser Milionário? (2008) de Danny Boyle. Richard Curtis foi o responsável pelo argumento, ele que já escreveu algumas das melhores comédias britânicas dos últimos tempos, não conseguiu fazer um bom trabalho ao adaptar o livro "Lixo" de Andy Mulligan.

No inicio do filme conhecemos José Angelo (Wagner Moura), procurado pela policia que anda atrás de algo importante que ele possui. Ao ser capturado atira uma carteira para dentro de um camião do lixo que está a passar. Enquanto Angelo é torturado e morto a carteira é encontrada num lixão por Rafael (para quem desconhece este é o nome dado aos enormes depósitos de lixo no Brasil, sitio onde vivem muitas familias que obtêm o seu sustento trabalhando lá). Rafael e mais dois amigos, por curiosidade começam a seguir pistas que encontram dentro da carteira depois de uma rusga policial a toda a área liderada por Frederico (Selton Mello). Rafael partilha as informações com os seus dois amigos, Gardo e Rato, e sentindo que estão a fazer alguma coisa importante, e sem querer saber do perigo, estão agora metidos numa embrulhada, mas dizem que só querem fazer o que está certo. 

A participação de Martin Sheen, como padre de uma pequena paróquia na favela, e Rooney Mara, uma professora de inglês voluntária, foi puramente publicitária e necessária para esta versão Hollywoodesca. No entanto os poucos diálogos em inglês existentes no filme são dos dois, e ambos não têm qualquer destaque sendo obvio que esta foi apenas uma estratégia para vender em filme em todo o mundo. O trailer leva-nos ao engano quando nos faz acreditar que Wagner Moura será um dos principais personagens deste filme, ele sem dúvida um papel chave na história, mas o seu tempo de ecrã é pouquissimo, o seu enorme talento como actor é aqui totalmente desperdiçado mas em todos os poucos momentos que entra a sua performance é fantástica. Selton Mello também tem um papel sólido mas pouco desenvolvido, seria interessante ter explorado mais o personagem. As crianças conseguem surpreender, sempre muito energéticas e o melhor que Lixo tem é sem dúvida a parte de entretenimento que os três meninos dão ao filme.

No que toca a aspectos técnicos, o filme tem sequências muito bem filmadas, uma boa edição e banda sonora adquada ao tema e situações do filme, mas os buracos no enredo e situações absolutamente impossiveis de acontecer chegam a ser bastante estrambólicas e totalmente previsiveis. A imagem que conhecemos do Rio de Janeiro não nos é mostrada da maneira que estamos habituados a ver. Sabemos que o filme é passado lá, mas mal conseguimos identificar isso. A ideia seria talvez mostrar só a parte menos boa da cidade, mostrando apenas as favelas e o lixão, mas estranhamente nem nisso consegue ser bem sucedido bem, pois tudo parece bonitinho demais.

Tentando ser provocador e politicamente incorrecto, Lixo acaba por se perder no meio de momentos  que não fazem sentido ou simplesmente são pouco inteligentes.









Classificação final: 2 estrelas em 5.

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