sábado, 7 de maio de 2016

Crítica: Viver à Margem (Time Out Of Mind) . 2014


"Eu não sou ninguém. Eu não existo." - aqui figura todo o significado e importância de Viver à Margem. Uma demonstração crua do quão é difícil sobreviver quando se está à mercê da vida nas ruas. Richard Gere tem andado meio que apagado dos grandes ecrãs nos últimos tempos, mas aqui tem a oportunidade de brilhar, num filme realizado por Oren Moverman, que se foca num estilo mais intimista, onde vamos espreitando vários episódios da vida de um sem abrigo.

A história é passada na cidade de Nova Iorque, onde conhecemos George (Richard Gere), um homem de meia idade, actualmente a pernoitar ilegalmente num apartamento abandonado, prestes a ser despejado pelo senhorio da propriedade. George é sem abrigo, mas agarra-se à vergonha e à culpa de ter ignorado a filha (Jena Malone) durante os anos mais importantes da sua vida. Sem sabermos bem o porquê de se encontrar nesta situação, vamos criando empatia consigo e procurando encontrar as respostas certas. Vemos George passar pelas mais variadas situações e tentamos colocar-nos na sua pele. A luta diária para arranjar um sitio para dormir, algo para comer, ou simplesmente a falta de um lugar a que chame casa. George lá vai deambulando sozinho, tentando encontrar forças para resistir à vida sombria, cada vez com mais falta de esperança.  

Esta é sem dúvida uma das melhores interpretações da carreira de Richard Gere, que convence com uma grande performance. Aqui, até o seu charme natural ajuda a incorporar o personagem, como se um brilho de outrora estivesse perdido dentro de um homem amargurado, vivendo agora uma vida que estaria longe de imaginar. Pouco sabemos ao certo sobre o passado de George, mas observamos todos os seus movimentos pelas ruas da cidade, que sob esta perspectiva perde todo o seu glamour. O retrato da agonia pessoal de um homem que só consegue lidar com o seu estado refugiando-se no álcool, e por vezes mentindo acerca da sua condição. A mensagem a passar é triste, mas muito importante, num mundo em que a sociedade, onde quer que seja, vê os seus sem abrigos como números. A sensação de invisibilidade é enorme, e muitas das cenas são captadas através de vidros, dentro de estabelecimentos ou até halls de entrada de prédios, dando uma certa ideia de protecção perante aqueles que são obrigados constantemente a permanecer nas ruas, sofrendo de discriminação social.

Viver à Margem tem os seus problemas, mas consegue transmitir aquilo que é mais importante. Vale a pena ver pelo seu significado e pela belíssima performance de Richard Gere. A verdade é que saímos da sala com um grande murro no estômago. 

Classificação final: 3 estrelas em 5.
Data de Estreia: 05.05.2016

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