sábado, 7 de novembro de 2015

Crítica: Anomalisa . 2015



» Exibido no LEFFEST '15 «

Da mente genial de Charlie Kaufman (responsável pela criação de obras como Eternal Sunshine of the Spotless Mind, Being John Malkovich ou Adaptation) chega agora o igualmente cativante e significante Anomalisa, uma animação stop-motion que para além de escrita por si, é co-realizado com Duke Johnson.


Michael Stone (voz de David Thewlis) é um escritor de livros motivacionais de sucesso, que acaba por se revelar aos poucos uma pessoa diferente da pessoa confiante que faz transparecer nos seus livros. Michael é afinal, um homem bastante solitário e deprimido. Inglês de berço, mas a viver em Los Angeles com a sua mulher e filho, teria tudo para ser feliz, mas acontece que não é bem assim. Vivendo constantemente asfixiado pelo mundo que o rodeia, rapidamente percebemos que Michael não consegue diferenciar qualquer ser humano. Quer seja, mulher, homem, criança, pessoa distante ou parente próximo (todos na voz de Tom Noonan), todos têm a mesma voz e fisionomia.  Mas é a quando de uma viagem a Cincinnati para uma conferência sobre um dos seus últimos livros, conhece Lisa (voz de Jennifer Jason Leigh) alguém que aos seus olhos é completamente diferente de todos os outros fantoches que conhece. A doce Lisa, revela-se imperfeita, insegura, peculiar e é por isso mesmo Michael se apaixona por ela de imediato. 

Com momentos de humor negro muito bons e outros que por vezes chegam até a ser creepy, a história tanto tem de pesada como de divertida, combinada com a genial animação em stop-motion, extremamente bem conseguida, sendo das melhores que já vi, com cenas onde por vezes nos esquecemos que não estão a ser interpretadas por pessoas reais. Para além do facto de demonstrar o quanto o ser humano pode sofrer ao se sentir sozinho, Kaufman joga bem com os nossos sentimentos, que se vão alterando à medida que vamos sabendo mais sobre este homem. A principio o que nos comovia, talvez deixe de comover assim tanto, deixando-nos indecisos sobre se afinal devemos ou não simpatizar com um sujeito que comete adultério, por simplesmente se achar especial demais para o mundo que o rodeia? Mas e se for doença mental? Estará Michael apenas a passar por uma crise de meia idade? Deverá este arruinar a felicidade dos outros para ser ele feliz? São todas estas questões que pairam no ar, que o tornam bastante inteligente. 

Introspectivo e maravilhosamente conseguido, Anomalisa é sem dúvida algo que fãs de animação, e não só, devem espreitar. Emana sofrimento, e opressão, que mesmo através da animação consegue fortemente passar para o lado de cá do ecrã.

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.

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