quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Crítica: Attila Marcel 2013


Filme que vai estar em exibição na Festa do Cinema Francês.

No inicio do filme é nos mostrada uma citação de Marcel Proust sobre A Memória e as memórias são o ponto de partida para este Attila Marcel.

Sylvain Chomet realizador de filmes como Les Triplettes de Belleville (2003) ou L’illusionniste (2010) passa da Animação para a vida real, num projecto doce e com importantes mensagens a passar à audiência.

Paul é um rapaz delicado, muito bem educado e toda a vida viveu com as suas duas tias pois os seus pais faleceram quando ele tinha dois anos. Desde então derivado ao trauma Paul nunca mais falou. Paul é um maravilhoso pianista, e trabalha com as duas tias num estúdio onde ambas dão aulas de dança. Constantemente triste e angustiado por toda a vida ter sido protegido demais, Paul segue uma rotina diária, muito esquematizada pois as suas tias parecem não o deixar crescer. A morte dos seus pais nunca foi assunto abordado em sua casa e existe algum tipo de mistério que as suas tias se recusam a contar, fazendo com que Paul tenha uma vida completamente em sofoco, sem vontade própria ou escolhas na sua vida. Mesmo sendo um individuo triste, Paul tem uma forte ligação com a música, e é através do piano que ele consegue expressar tudo aquilo que esta preso dentro de si.

Todas as personagens do filme poderiam perfeitamente ter sido retiradas ou adaptadas a um filme de Animação, mas é algo que se poderia esperar derivado ao curriculum de Sylvain Chomet. O personagem principal do filme Paul parece definitivamente saído de uma. Interpretado brilhantemente por Guillaume Gouix, toda a sua postura, muito mímica e por vezes desajeitada é muito “abonecada” brindando o ecrã com cenas absolutamente deliciosas e outras até bastantes emocionais. Hélène Vincent e Bernadette Lafont (aqui no seu último trabalho no grande ecrã depois do seu falecimento o ano passado aos 73 anos) interpretam maravilhosamente as duas tias, também bastante peculiares, vestem-se da mesma maneira, comportam-se da mesma maneira e nem por nada as vemos separadas. Anne Le Ny como Madame Proust, a personagem chave desde filme (ou não tivesse ela um apelido de peso) que por detrás de toda uma imagem trapalhona irá ajudar Paul através de métodos não muito convencionais. Mas Paul irá também contar com a pequena ajuda de mais um peculiar amigo da família, Monsieur Coelho, um homem cego que sem querer o levou a conhecer Madame Proust e que nos irá proporcionar uns bons momentos de risada, papel desempenhado pelo actor Luis Rego nascido em Portugal. E até o nosso Galo de Barcelos tem uma participação especial na história…

Attila Marcel é uma viagem até as memórias de Paul, memórias longínquas que o tempo ajudou a apagar. Ao recuperar algumas delas Paul irá conseguir desvendar o mistério do seu constante desgosto, sempre com o objectivo de ultrapassar os traumas do passado, traumas que nem ele sabe bem quais são, e finalmente ser feliz vivendo uma vida normal como qualquer outra pessoa jovem como ele.

Talvez um dos maiores problemas do filme seja o facto de levar muito tempo a chegar a alguma resolução. Ficamos “parados” muito tempo no mesmo sitio. O filme não deixa de nos entreter mas o desenvolvimento tardio faz com que o resultado final seja um pouco decepcionante. Ele guia-nos num caminho, que no fim nos troca as voltas. Não existe a reviravolta de grande impacto que poderia ter. Apesar de toda a agradável parte cómica da história, gostava que a parte dramática tivesse sido levada mais a sério visto que estas nos conseguem por a pensar e questionar realmente até onde é que as nossas memórias, boas ou más, nos podem levar ou ter influância nas nossas vidas. Algumas das cenas fortes do filme conseguem ter impacto em nós, abordando temas muito importantes como a violência doméstica, meio ambiente e exclusão social, mas mesmo sem intensão parece que nunca chega a haver um equilíbrio entre o género comédia vs drama. Os actores conseguem colocar a intensidade necessária nas partes emocionais mas também conseguem nos fazer rir quando é necessário, mas a passagem de um género para o outro por vezes não é harmoniosa.

Attila Marcel é uma agradável viagem até uma França bastante colorida onde as pessoas e a música estão ligadas. Demonstra também como difíceis memórias de infância podem influenciar muito a vida de certas pessoas. Um filme que carrega consigo para além de grandes mensagens um enorme coração.







Classificação final: 3,5 estrelas em 5.

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