quinta-feira, 9 de abril de 2015

Crítica: Taxi Driver 1976 | Take 38 NYC


Review presente na edição nº 38 (New York City) da

Mesmo quem nunca tenha visto Taxi Driver com certeza que se lembra de ter visto algures a famosa cena de Travis Bickle de pistola em punho em frente a um espelho – “Are you talkin’ to me?” – cena essa que define de forma impecável toda a inteligência e metáfora de um dos mais significativos thillers dos anos 70 e um dos melhores filmes da carreira de Martin Scorsese.

Travis Bickle (Robert De Niro) é um homem instável marcado pela guerra. Ele trabalha durante o turno da noite, conduzindo um táxi pelas ruas de Nova Iorque. Aos seus olhos a sociedade está cada vez mais suja e decadente e a sua vontade de mudança alimenta um sentimento violento que cresce mais e mais a cada dia que passa dentro si, sentimento esse que se intensifica quando conhece Iris (Jodie Foster), uma prostituta adolescente que pretende tirar da má vida.

Mais do que um mero filme sobre um ex-veterano da Guerra do Vietnam, Taxi Driver é um estudo psicológico de um homem mentalmente instável, violento e isolado que se identifica com a solidão da noite e se confunde com as ruas da cidade, perante a escuridão e o mistério da noite. A sua mente confusa e agitada torna-o um personagem interessante e ao mesmo tempo perturbador. O argumento escrito por Martin Scorsese com a parceria de Paul Schrader é fantástico, fazendo com que todos os detalhes se complementem para que haja uma lógica gradual na transformação daquilo que é o personagem no início e naquilo que ele se torna quando chegamos ao final e toda a raiva e pensamentos sombrios que Travis tem dentro da sua mente são revelados a pouco e pouco de forma arrepiante.



Nova Iorque é o cenário perfeito para este tipo de história. A atmosfera realista de uma cidade de encanto e charme, mas que à noite se transforma num sítio selvagem e sujo – “All the animals come out at night” – como diz Travis a determinado ponto, e sua sede de “limpar a escumalha das ruas” fá-lo acreditar que é um justiceiro. As poucas cenas passadas durante o dia fazem o contraste perfeito do bem vs mal e todas elas têm um significado, demonstrando como Travis não se sente a vontade perante a parte deslumbrante da cidade.

Travis Bickle é sem sombra de dúvida um dos personagens mais desesperados e alucinados do cinema, e foi graças a ele que Robert De Niro teve assim o seu primeiro grande destaque da carreira, sendo este o papel que realmente o põe nas luzes da ribalta. Com uma performance absolutamente marcante ele faz-nos realmente acreditar que é mentalmente desequilibrado.

É um pouco difícil para mim falar dos filmes de Martin Scorsese sem fazer imensos elogios (ele é um dos meus realizadores favoritos, talvez mesmo “o” favorito), e considero-o um dos mais completos realizadores. Não tem medo de inovar e atrever-se a experimentar coisas novas (veja-se o exemplo do seu mais recente filme, The Wolf of Wall Street) e marca aqui a diferença em 1976 com um filme bastante inovador e pouco usual para a época. A brilhante cinematografia e a banda sonora memorável da responsabilidade Bernard Herrman são também dois dos seus grandes factores. 

O final violento e brutal é absolutamente necessário para a sua conclusão e têm o impacto pretendido, permanecendo então a questão se Travis é, ou não um “herói” aos olhos de uma sociedade que honra a violência e tolera comportamentos criminais. Estaria afinal a sua visão sobre Nova Iorque assim tão errada?

Em 2013 tive o previlégio de assisti-lo no grande ecrã e se já era fã, fiquei ainda mais. Taxi Driver é sem dúvida uma obra hipnotizante e apaixonante, que marca não só a carreira de Martin Scorsese e Robert De Niro, mas também a história do cinema. Um dos essenciais para quem gosta de cinema.

Classificação final: 5 estrelas em 5.

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