segunda-feira, 1 de maio de 2017

Crítica: Foge (Get Out) . 2017


A maior parte das vezes em que a comédia se mistura com o horror, a probabilidade de sucesso não é garantida. Exige um balanço certo para que haja a resposta pretendida para provocar o interesse. Foge consegue não só esse equilíbrio, num tom perfeito que ilustra uma forte mensagem racial, mas ao mesmo tempo satírica das sociedades de hoje em dia, sobretudo do estigma racial americano que acompanha a América ao longo da sua história. Escrito e realizado por Jordan Peele, Foge traz uma certa frescura não só ao género do thriller/horror psicológico, mas também à usual trama em que famílias de namoradas acabam por se transformar numa valente dor de cabeça.

Chris Washington (David Kaluuya) é um fotografo afro-americano a namorar com Rose Armitage (Allison Williams), uma bela rapariga branca e classe média alta cuja família possui uma quinta nos arredores da cidade. Apesar dos receios de Chris, Rose organiza uma viagem de fim de semana à casa da família para lhes apresentar o mais recente pretendente, mas durante a estadia Chris fica cada vez mais perturbado com os comportamentos suspeitos por parte do pai (Bradley Whitford), da mãe (Catherine Keener) e do irmão (Caleb Landry Jones) da namorada. Para além da família, os serventes da casa, também eles negros, parecem ter atitudes estranhas e Chris sente-se cada vez mais intrigado e desconfortável. As suspeitas de que algo está realmente errado ficam mais evidentes, aquando da chegada de amigos da família para uma festa anual que parece ter sido marcada propositadamente. Mas afinal, o que está realmente a acontecer!?


O comediante Jordan Peele, aqui na sua primeira experiência como realizador, constrói uma relevante obra racial, com toques de humor inteligente e elementos secundários também eles importantes que ajudam a moldar a atmosfera e intensidade desta história. As referências cinematográficas são evidentes ao mesmo tempo que a atenção ao detalhe e a banda sonora nos vão dando pistas subtis do que está para vir, mesmo que não façam grande sentido ou que aparentemente pareçam ter sido escolhidas aleatoriamente. O género do terror está a mudar e é óptimo ver esta ambição por parte de novos realizadores, fugindo às abordagens usuais, riscando nos temas e desenvolvimento, surpreendendo apostando em novas ideias e novas formas de tratar essas ideias, apesar de ter como referência obras de culto mais antigas. Daniel Kaluuya é fantástico e o resto do elenco suficientemente creepy para nos intrigar desde o inicio.

Cheio de tensão e sem uso de gore ou cenas demasiadamente sangrentas, o filme consegue chegar ao efeito pretendido de forma perspicaz, jogando com o factor psicológico e emocional. Foge sabe exactamente como agarrar quem o assiste.

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.
Data de Estreia: 04.05.2017

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