sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Crítica: Moonlight . 2016


Não é muito comum um filme de baixo orçamento, andar nas bocas do mundo. Mas tal como aconteceu com Manchester By The Sea, no inicio do ano em Sundance, também este Moonlight marcou a diferença mal 2016 tinha começado. Não podemos negar que este é um dos filmes mais interessantes do ano. Não propriamente pela história que nos apresenta, mas pela forma tão próxima como nos é apresentada a homossexualidade na comunidade africana nos Estados Unidos, algo nunca antes (e tão bem) explorado no cinema.

Dividido em três partes, revemos um pouco da história de vida do protagonista, revivendo algumas das situações mais marcantes que passou durante a sua infância, adolescência e idade adulta. [I. Little] Chiron (Alex Hibbert) é apenas um miúdo envergonhado e reservado, que vive com a mãe abusiva (Naomie Harris), que mal sabe cuidar dela quando mais de um filho. Chiron começa desde cedo a saber lidar com situações difíceis, devido ao vicio das drogas da mãe, ao mesmo tempo que ganha cumplicidade com o Juan (Mahershala Ali) o dealer da zona. [II. Chiron] Já no secundário, as ameaças e o bullying começam a ser constantes, e o medo de assumir o sua verdadeira personalidade impedem-no de ser um jovem realmente feliz. Chiron (Ashton Sanders) apaixona-se por um colega de escola, e depois de ter a sua primeira experiência sexual, sofre mais uma desilusão. [III. Black] Aparentemente um homem diferente do menino que conhecemos no inicio, mas no seu intimo apenas o pequeno "little", Chiron (Trevante Rhodes) continua mais frágil do que podemos imaginar e um reencontro inesperado irá despertar sentimentos antigos, mas nunca esquecidos.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Crítica: Vedações (Fences) . 2016


Directamente dos palcos da Broadway para o cinema, Denzel Washington toma pela terceira vez o lugar de realizador, revivendo também o mesmo papel de protagonista que interpretou em 2010 na peça que dá agora origem a esta versão cinematográfica, Vedações, adaptada da peça do premiado dramaturgo August Wilson.

Algures durante os anos 50, Troy (Denzel Washington) é um homem de meia idade que luta diariamente para tentar proporcionar à sua mulher Rose (Viola Davis) e ao seu filho Cory (Jovan Adepo) o melhor que a vida lhe permite. Troy vive preso ao passado, tendo dificuldade em assumir as suas frustrações, quando revoltado se recorda dos tempos que era um bom jogador de baseball, mas a cor da sua pele o impediu de avançar na carreira e ter uma vida estável. Agora que o filho tem a oportunidade de seguir as suas pisadas, podendo aceitar uma bolsa como jogador de futebol na liga escolar, Troy impede-o de o fazer, não só com medo que a discriminação racial lhe trave um caminho de sucesso que também podia ter conseguido, mas também pelo sentimento de inveja que lhe é impossível esconder. A pedido de Rose, Troy está encarregue de construir uma vedação em torno da casa da família, que tem como principal objectivo de manter afastadas as coisas que não pertencem ao lar, do lado de fora. Mas esta vedação tem um significado emocional muito maior do que aquilo que aparentemente podemos pensar.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Crítica: Elementos Secretos (Hidden Figures) . 2016


Nunca é demais mostrar que em tempos, infelizmente não tão distantes como isso, a América vivia consoante o seu "esquema das cores", onde o factor racial era definitivo para alcançar uma carreira de sucesso. Elementos Secretos conta a história verídica de três mulheres que quebraram uma importante barreira, que se tornou determinante. É acima de tudo um feel-good movie que até consegue transmitir a mensagem inspiradora que carrega, mas da forma mais trivial possível.

Baseado no livro homónimo de Margot Lee Shetterly, Elementos Secretos conta a história de três matemáticas afro-americanas a trabalhar na NASA, em particular na pessoa de Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson) que calculou ou trajectos do Projecto Mercúrio - programa espacial americano cujo objectivo seria colocar um homem em orbita e trazê-lo de volta à Terra em segurança - que colocava os americanos à frente na corrida espacial contra a União Soviética durante os anos 50/60. Num mundo maioritariamente liderado por homens, em tempos em que ainda estavam à frente de tudo as diferenças raciais, este é um filme sobre a luta pela igualdade não só de género mas também racial, em que a principal mensagem é transmitir que o sentido de união faz a força e assim se consegue marcar toda a diferença.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Crítica: Jackie . 2016


Jacqueline Kennedy é quase uma figura mitológica do século XX. Muito se tem especulado acerca da sua figura, mas a verdade é que nunca tinha sido profundamente explorada no cinema anteriormente, comparando com as vezes que John F. Kennedy o foi. Infelizmente ainda não é desta que podemos ficar plenamente satisfeitos, pois estamos perante um filme bastante inconstante, mas curiosamente recheado de alguns momentos brilhantes. Um filme do qual queremos mesmo gostar, mas cujos erros se tornam difíceis de ignorar.

Aqui percorremos os três dias mais trágicos da vida da eterna viúva dos Estados Unidos. O dia em que o Presidente John F. Kennedy é assassinado em Dallas, no Texas, e os dias que se seguiram. Pelo meio estão representados através de flashbacks estes e outros momentos da sua vida, enquanto Jackie (Natalie Portman) é entrevistada no presente por Theodore H. White (Billy Crudup), um jornalista que pretende fazer um artigo sobre a sua dramática experiência para a revista Life. Existirá sempre um enorme fascínio por uma das figuras mais emblemáticas da história dos EUA, não só pelos escândalos associados à sua vida matrimonial, mas também pela curiosidade constante que continua a existir sobre a verdadeira Jackie por detrás do mito e da ideia da perfeita dona de casa americana, respeitadora e braço direito do marido em qualquer circunstancia. 

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Crítica: La La Land - Melodia de Amor (La La Land) . 2016


Damien Chazelle surpreendeu todos, ao fazer da sua segunda longa metragem um sucesso digno de realizador experiente em Hollywood. A sua produção independente Whiplash (2013), tinha a qualidade de qualquer filme de grande estudio e os olhos ficaram de imediato postos neste jovem de 32 anos, que escreve e realiza como gente grande, onde já merecidamente o podemos classificar como um dos melhores da nova era.

Los Angeles, a cidade dos sonhos. Mia (Emma Stone) é uma aspirante a actriz, a trabalhar numa coffee shop de um estúdio de cinema. Sebastian (Ryan Gosling) é um pianista de jazz, debatendo-se por encontrar um trabalho onde possa ser dono da sua criatividade. O destino dos dois cruza-se e juntos vão descobrir que o amor e os sonhos são algo verdadeiramente poderoso. Cada vez passam mais tempo juntos e um carinho especial surge. A ambição de triunfar é imensa pela duas partes, e assim é também o amor que os une, mas será que tudo é realmente perfeito e possível na cidade dos sonhos?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Crítica: Fragmentado (Split) . 2016


M. Night Shyamalan é odiado por muitos, e eu gosto de dizer que é incompreendido por todos. A verdade é que cada vez que um filme seu estreia nas salas, todos ficam em pulgas para o ver. Muitos dizem que atingiu o seu apogeu logo no seu terceiro trabalho, O Sexto Sentido em 1999, mas eu diria que apesar de uns deslizes gravíssimos na carreira - e mais vale esquecer O Último Airbender (2010) e Depois da Terra (2013) - Shyamalan continua a ser fiel a si próprio, e coloca Fragmentado no top 5 dos seus melhores filmes.

Três jovens adolescentes, Claire (Haley Lu Richardson), Marcia (Jessica Sula) e a reservada Casey (Anya Taylor-Joy), são raptadas num parque de estacionamento de um restaurante quando o pai de uma delas se prepara para as deixar em casa. Sob a personalidade de Dennis, Kevin Crumb (James McAvoy), um homem que sofre de Transtorno Dissociativo de Identidade cujos diferentes comportamentos estão associados às vinte e três personalidades contidas na sua identidade, é o responsável pelo rapto e leva-as para uma divisão da sua casa onde as mantém em cativeiro. Sem sabermos ao certo porquê, Casey é a única que estranhamente consegue lidar com o comportamento inconstante das personalidades de Kevin, que enquanto as mantém escondidas em segredo, vai visitando regularmente a psiquiatra Dra. Karen Fletcher (Betty Buckley) que conheça a suspeitar da frequência dessas visitas.