sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Crítica: Gett: O Processo de Viviane Amsalem 2014


Data de Estreia: 12-03-2015

Filme:  

Durante cinco anos Viviane Amsalem (Ronit Elkabetz) luta para obter o divórcio junto do Tribunal Rabínico, a única autoridade legal para julgar casos de divórcio em Israel. Viviane vive uma batalha diária emocionalmente desgastante, enfrentando uma atitude absolutamente intransigente por parte do seu marido Elisha (Simon Abkarian), que se recusa a conceder o divórcio, mesmo já não coabitando na mesma casa há alguns anos. Esta é a luta intensa de Viviane para ter a sua integridade e liberdade de volta num país onde rabinos afirmam que fazem de tudo para ajudar as esposas, mas onde a realidade é bem diferente disso.

Em Israel, apenas a lei religiosa rege os casamentos, independentemente se são religiosos ou não, estipulando que só o marido pode conceder a separação. Viviane desesperada quer aquilo que é seu por direito, decidir que já não quer continuar ao lado de um homem que já não a faz feliz, mas Elisha, o teimoso marido leva-a à completa exaustão física e emocional, num processo que é arrastado devido apenas à sua renúncia.

A carga emocional e a intensidade colocada na personagem Viviane, brilhantemente interpretada por Ronit Elkabetz (ela que também escreve e realiza o filme em colaboração com o seu irmão Shlomi Elkabetz) é algo sublime, alias todas as performances do filme são dignas de reconhecimento. Desprovidos de grandes cenários - visto que o filme é quase todo ele passado apenas numa sala de audiência do Tribunal - o elenco é capaz de trabalhar com aquilo que mais poderoso têm, o olhar, a expressão facial e corporal, interagindo de forma muito dinâmica uns com os outros, partilhando cada momento intenso assim como alguns inteligentes momentos cómicos que ajudam a aliviar o clima hostil vivido entre quatro paredes.

É bastante interessante constatar a forma como o homem e a mulher são vistos de forma diferente aos olhos de cada um dos intervenientes, apresentando-nos diferentes prismas da situação ao longo da história, sempre com a ideia estabelecida de que a voz da mulher não tem a mesma força que a do homem, muito menos quando esta põe em perigo aquilo que é o mandamento judaico mais sagrado de todos, preservar o lar judeu.

Gett: O Processo de Viviane Amsalem é uma história fascinante e absolutamente intensa que nos revela um facto sobre uma sociedade onde ainda hoje a mulher é tratada como propriedade do marido e não como ser independente e provido de liberdade. Belo e recheado de grandes performances, conseguindo o equilíbrio perfeito entre a tragédia e a comédia.


Classificação final: 4,5 em 5.

Crítica: Escobar: Paraíso Perdido (Escobar: Paradise Lost) 2014


Data de Estreia: 12-02-2015

Para quem possa pensar que isto se trata de um filme biográfico sobre Pablo Escobar (Benicio Del Toro) não se deixe enganar. Infelizmente, esta é apenas a história de um surfista do canadá, Nick (Josh Hutcherson) que se apaixona por Maria (Claudia Traisac), sobrinha do influente e mundialmente conhecido barão da droga columbiano. Disposto a fazer tudo por amor, Nick deixa-se envolver no poderoso e perigoso mundo do crime de Escobar, lutando contra o seu moralismo e medo.

A relação entre Nick e Maria salta desde o ponto em que se conhecem, logo para uma grande intimidade não só com a familia de Maria, mas em especial com Escobar. Visto que Escobar é idolatrado por todos, seria normal que este se tentasse aproximar de Nick tentando manipula-lo e intimida-lo a entrar e aceitar o mundo de que agora também faz parte, mas a rapidez com que isso acontece faz com que muitos aspectos fiquem perdidos no meio de um enredo que só tem como objectivo principal tentar fazer de Nick um herói. 

A carismática performance de Benicio Del Toro acaba por fazer com o filme consiga brilhar. Ele simplesmente comanda todas as cenas em que entra (infelizmente não tantas quanto gostava) e assim que abandona o ecrã só queremos que regresse e quando o filme acaba damos por nós a pensar o quão bom seria ter uma história apenas sobre Pablo Escobar com Del Toro novamente na sua pele.

Confesso que tenho um pouco de dificuldade em olhar para Josh Hutcherson e vê-lo encarnar personagens dignos de mais intensidade e conteúdo (apesar de se ter destacado, principalmente apartir do segundo filme, da franquia The Hunger Games). Ele consegue safar-se relativamente bem nas cenas mais intensas mas parece que não é o actor ideal para o papel. Talvez o seu aspecto de "garoto" não ajude na credibilidade do papel.

Resumindo, Escobar acaba por se ir cruzando com os personagens centrais da história e não o contrário o que nos deixa com uma enorme insatisfação. Apesar disso a acção, envolvencia e subtileza criada em torno de Escobar faz com que conforme vamos avançando na história fiquemos à espera de alguma revelação ou acção inesperada.


Classificação final: 3 estrelas em 5.

Crítica: Olhos Grandes (Big Eyes) 2014


Data de Estreia: 25-02-2015

Se começarmos a ver um filme de Tim Burton, mesmo sem saber, rapidamente conseguimos identificar o seu estilo e associamo-lo de imediato a ele. Big Eyes é exactamente o contrário. Aqui Tim Burton sai completamente da sua zona de conforto, num filme onde não há atmosfera sombria, personagens loucos, muito menos os elementos góticos habituais. Esse poderá ser um dos aspectos mais preocupantes nele (pois poderá não agradar aos grandes fans do realizador) mas ao mesmo tempo pode ser considerado um aspecto positivo, onde conseguimos constatar que Tim Burton também é capaz de se distanciar da bizarrice que caracteriza todo o seu trabalho.

Big Eyes é baseado na história verídica de Margaret Keane (Amy Adams), uma pintora com uma filha pequena, que conhece o charmoso Walter (Christoph Waltz), também ele pintor, com um grande olho para o negócio mas não tanto para a pintura. Rapidamente Walter começa a ficar com os créditos dos trabalhos de Margaret, pois os seus quadros - na sua maioria crianças e animais com olhos desproporcionais - atingiram um grau de popularidade enorme nos anos 60.

O filme revela ter muito mais conteúdo do que propriamente aparenta ter. A complexidade da história está na representação do papel feminino no mundo das artes e do quão difícil é ser-se aceite e elogiado nesse universo, até mesmo para um homem. Mas não passa muito para além de constatar isso. A ligação entre mãe e filha, que a princípio parece ser forte (até porque a filha é a sua grande inspiração) rapidamente fica perdida e não lhe é dado grande enfase, assim como outros personagens secundários que são mal aproveitados, veja-se o caso do jornalista que narra a história, se o eliminássemos não faria qualquer diferença. A submissão de Margaret perante Walter é algo importante no filme, mesmo assim é outro dos aspectos que não é totalmente esmiuçado.

Apesar de adorar Christoph Waltz a sua personagem vai se tornando um pouco exagerada assim que vamos avançando na história, e o seu overacting foi algo que não resultou muito bem para mim, mas percebo a ideia de caricaturar o personagem. Mesmo assim é interessante ver como ele consegue mostrar as várias facetas de Walter, que gradualmente vai mostrando à audiência que não é a pessoa que aparenta ser no inicio. Amy Adams tem uma performance bastante razoável mas mesmo assim parece que nunca dá tudo de si, num personagem reprimido e que merecia ser muito mais explorado emocionalmente. 

Tim Burton presta assim uma homenagem a Margaret Keane (como fan do seu trabalho, pois também ele é coleccionador das suas obras), mas peca quando não entra no campo mais profundo das questões. Ainda assim, é um filme agradável, longe de ser uma obra-prima.


Classificação final: 3 estrelas em 5.

A verdadeira Margaret Keane (que faz um pequeno cameo no filme) ao lado de Amy Adams.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Crítica: O Que Fazemos Nas Sombras (What We Do In The Shadows) . 2014


Os vampiros também se adaptam aos tempos modernos. What We Do In The Shadows mostra-nos um grupo de quatro vampiros que partilham um apartamento e tentam viver uma vida "quase" normal dentro das possibilidades, quando afinal de contas se é um vampiro. Uma brilhante comédia em jeito de mockumentary (para quem não sabe, este é um estilo de filme onde personagens e situações ficcionais são apresentadas em género de documentário para parodiar acontecimentos) que se revela uma das melhores de 2014, se não a melhor.

Os três actores principais são fantásticos. Os vampiros Viago, Deacon e Vladislav têm diferentes personalidades e peculiares referências e a maneira como cada um dos actores as interpreta faz com que cada um brilhe à sua maneira. Muito mais do que aquilo que é dito, a parte corporal explorada pelos actores é notável. Expressões faciais e certas atitudes fazem com que muitas das vezes larguemos imensas risadas mesmo sem abrirem a boca.

Apesar de não existir propriamente uma história, no caso deste filme isso é um aspecto que acaba por não ser realmente importante. Aqui o objectivo era mesmo assistir a situações hilariantes - muitas delas absurdamente estupidas - que deixam qualquer um bem disposto. Com referências a filmes como Twilight ou Blade, tal como a presença de zombies e lobisomens só poderia resultar em momentos de pura diversão e sátira, mas onde curiosamente também tenta passar algumas mensagens de crítica à sociedade, subtilmente tocando em temas como a discriminação por exemplo.

Absolutamente refrescante, inteligente e divertido, What We Do In The Shadows é sem dúvida um bocado bem passado, recheado de grandes gargalhadas.


Classificação final: 4,5 estrelas em 5.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Óscares 2015 | Melhores Momentos


Todos os anos a cerimónia dos Óscares agrada mais a uns do que a outros (ou não agrada de todo). Apesar da controvérsia sempre presente todos os anos acerca dos nomeados e dos que caem no esquecimento, esta é uma das cerinómias de entrega de prémios que desde cedo, continua a causar em mim um certo encanto, mesmo que por vezes não esteja, também eu, propriamente de acordo com as decisões tomadas.

Este ano o grande anfitrião foi Neil Patrick Harris que a meu ver se saiu relativamente bem, neste tipo de cerimónia que não foge muito daquilo a que já nos habituamos a ver ao longo do tempo. O alinhamento é semelhante todos os anos e aquilo que pode ou não determinar o sucesso, podem ser talvez o tipo de piadas utilizadas, trocadilhos e situações engraçadas, sempre explorando de alguma forma o que se fez nos filmes que estão nomeados - ora veja-se, por exemplo, a divertida sequência retirada de Birdman, em que Neil Patrick Harris aparece de cuecas no meio do palco, depois de passar por Miles Teller, que toca bateria (fazendo referência à banda sonora de Birdman, mas também a Whiplash um dos filmes nomeados que Teller protagoniza) fazendo também uma pequena referencia ao papel de J. K. Simmons, vencedor do Óscar de Melhor Actor Secundário.


Os discursos de aceitação nos Óscares, são por norma memoráveis, e este ano também não foi excepção. Desde Patricia Arquette com um pedido efusivo de igualdade salarial entre sexos, a J. K. Simmons apelando a todos para darem mais importância aos nossos pais, foi Graham Moore (vencedor do Óscar de Melhor Argumento Adaptado pelo filme O Jogo da Imitação) que fez o discurso mais inspirador e emocional da noite, confessando que aos 16 anos de idade tentou o suicidio porque era diferente e sentia que não pertencia em lugar nenhum, apelando a todos a continuarem diferentes fazendo um alerta sobre a questão do suicidio e depressão. Sem dúvida, um dos melhores e mais belos momentos da cerimónia.


Outro dos grandiosos momentos foi a performance de "Glory", canção vencedora do Óscar de Melhor Canção Original pelo filme Selma, onde John Legend e Common emocionaram toda a gente, levando a audiência às lagrimas, ao interpretar, mais uma vez ao vivo, a poderosa canção. Mais um dos melhores momentos musicais foi o tributo ao filme Música no Coração, protagonizado por Lady Gaga, numa actuação de grande elegância.


Uns ganham outros perder, é sempre assim. Nunca nos podemos esquecer, é que acima de tudo os Óscares são mais um dos eventos que existem para celebrar algumas das coisas que de melhor se faz na 7ª Arte, e isso continua a ser o mais importante. Para o ano há mais!

Óscares 2015 | Os Vencedores


Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) é o grande vencedor da 87ª. Edição dos Óscares 2015. O filme de Alejandro González Iñarritu, ganhou assim quatro categorias, incluindo a de melhor filme e melhor realizador. Boyhood - Momentos De Uma Vida, de Richard Linklater, sai assim derrotado, visto que era um dos supostos favoritos, levanto para casa apenas um dos prémios.

Não posso deixar de demonstrar o meu contentamento, visto que Birdman foi sem dúvida o meu filme favorito de 2014. Apesar de tudo, Boyhood é um marco na história do cinema, e só o facto de ter sido filmado ao longo de 12 anos, dá a Linklater um mérito inigualável. No geral, pode-se dizer que não houve grandes surpresas. Duas das minhas maiores dúvidas seriam mesmo quem levaria a estatueta de Melhor Filme e Melhor Realizador, pois de resto acho que já seria previsível.

Aqui fica a lista completa de vencedores:

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Fotografia e Melhor Argumento Original | Crítica aqui.

A Teoria de Tudo
Melhor Actor para Eddie Redmayne | Crítica aqui.

O Meu Nome É Alice
Melhor Actriz para Julianne Moore | Crítica aqui.

Whiplash - Nos Limites
Melhor Actor Secundário para J. K. Simmons, Melhor Montagem e Melhor Mistura de Som | Crítica aqui.

Boyhood - Momentos De Uma Vida
Melhor Actriz Secundária para Patricia Arquette | Crítica aqui.

O Grande Budapest Hotel
Melhor Guarda Roupa, Melhor Maquilhagem e Cabelo, Melhor Design de Produção, Melhor Banda Sonora Original | Crítica aqui.

O Jogo da Imitação
Melhor Argumento Adaptado | Crítica aqui.

Ida
Melhor Filme Estrangeiro (Polónia) | Crítica aqui.

Interstellar
Melhores Efeitos Visuais | Crítica aqui.

Sniper Americano
Melhor Montagem de Som | Crítica aqui.

Selma - A Marcha da Liberdade
Melhor Canção Original "Glory" | Crítica aqui.

Big Hero 6 - Os Novo Heróis
Melhor Filme de Animação | Crítica aqui.

Feast
Melhor Curta-Metragem de Animação

The Phone Call
Melhor Curta-Metragem

Citizenfour
Melhor Documentário

Crisis Hotline: Veterans Press 1
Melhor Documentário Curta-Metragem

Se já não se recordam da lista completa de todos os nomeados podem consultar aqui.