terça-feira, 19 de janeiro de 2021

my (re)view: Pieces of a Woman . 2020

 

imagem via deadline.com

Assim que Pieces of a Woman começa conhecemos brevemente Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf) futuros pais prestes a dar o grande passo de constituir família. Logo de seguida estamos perante um magnifico plano sequencial de mais de vinte minutos, belissimamente coreografado e desempenhado, que é provavelmente dos momentos mais desesperantes e cheios de tensão que já vi num filme. Um parto feito em casa, que corre mal e pelo meio de muita dor, muito desconforto e a cima de tudo muita expectativa do desconhecido a tragédia ocorre. Martha e Sean perdem a sua filha poucos minutos depois de ter nascido. Depois de todo o sufoco que vivemos desesperadamente ao lado dos protagonistas, começamos a viver com eles o luto. Vanessa Kirby tem aqui talvez a melhor performance da sua carreira até agora, demonstrando todo o sofrimento e angústia de uma mulher que perdeu um filho e do sentimento de culpa pela decisão que tomou quanto à forma que escolheu ter a sua bebé.  Este é o seu filme. Acompanhamos também todo o drama familiar paralelo e de como é fácil as coisas se demoronarem se não existirem alicerces fortes num relacionamento. Penso que o facto do filme ser bem sucedido se deve as óptimas interpretações de todo o elenco assim como a forma como o realizador Kornél Mundruczó optou por o filmar, dando uma prespectiva bastante intimista de todos os momentos como se também nós estivessemos lá. O filme foi baseado na experiencia pessoal do realizador e da sua mulher Kata Wéber, que escreve o argumento do mesmo, pois ambos passaram por uma experiência parecida. Talvez por isso mesmo, Pieces of a Woman seja tão forte e tão intimo que nos toca a todos. Fica no final uma mensagem de esperança que nos cabe a nós interpretar. Nem tudo o que é mau dura para sempre e todos nós temos forças não propriamente para superar a dor e a perda, mas para saber lidar melhor com ela ao longo das nossas vidas.

Classificação final: 4,5/5 estrelas.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

my (re)view: Ma Rainey's Black Bottom . 2020

 

imagem via variety.com

Ma Rainey's Black Bottom poderá não ser o filme mais apelativo do mundo para muitos, mas certamente é dos melhores filmes do ano que passou. Para além de ser uma excelente demonstração do que era o mundo do blues na época também nos dá a conhecer mais um pouco do que a comunidade afro-americana passava artisticamente e socialmente naqueles tempos. Esta é a última performance de Chadwick Boseman que o ano passado nos deixou. E tão cedo que foi. A sua interpretação é magistral, algo pela qual espero que tenha o devido reconhecimento apesar de já não estar entre nós. O seu retrato é o de Levee, um trompetista ambicioso e bem falante que pretende medir forças com a carismática "mãe do blues" Ma Rainey também belissimamente interpretada por Viola Davis que já nos habituou aos grandes papeis. Boseman deixa qualquer um arrebatado com uma assombrosa performance que marca bastante este filme e aquilo que pretende transmitir quando contrasta o que é querer ser respeitado no mundo músical e problemas sociais da comunidade afro-americana. O filme é baseado na peça de teatro de 1982 escrita por August Wilson com o mesmo nome e essa inspiração está bem vincada a nível cinematografico. Apesar dos cenários muito limitados, isso não importa nada e fica aqui o exemplo de que com pouco se faz muito. Ritmo perfeito e duração perfeita com presenças muito importantes no ecrã e argumento poderoso abordando vários temas importantes. Tudo impecável à excepção do pesar que fica quando chegamos ao final e sabemos que Chadwick Boseman não voltará a poder fazer papeis releventes como este, no seu melhor. Rip.

Classificação final: 4,5/5 estrelas.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

my (re)view: The Midnight Sky . 2020

 

imagem via universalnews.org

George Clooney volta ao grande ecrã não apenas para estrelar mas também realizar depois de um hiato de três anos. The Midnight Sky é um sci-fi levado a boleia de muitos outros cujo apocalipse aconteceu derivado a alterações climáticas. Estamos em 2049 e o cientista Augustine Lofthouse (Clooney) decidiu ficar sozinho no planeta Terra depois de todos os outros habitantes o terem abandonado. Muito poucos detalhes a cerca do que aconteceu nos são dados e essa é logo uma das minhas primeiras embirrações com o filme. Augustine sabe que uma tripulação espacial está a caminho de casa, não sabendo o que entretanto aconteceu na Terra. Vamos acompanhando em paralelo Augustine e essa mesma tripulação em que o proposito será impedir que os mesmos regressem, abrindo uma possibilidade de humanos habitarem noutros planetas favoraveis, objectivo daquela missão em questão. A nível visual o filme está bastante bem conseguido, as cenas no espaço são ambiciosas e fazem lembrar muito Gravity, inspiração que Clooney pode ter ido buscar ao filme de Alfonso Cuaron em que também entrou. Mas quando falamos de narrativa consegue ser pouco destemido e por vezes até aborrecido. O elenco esforça-se, sentimos a dedicação de Clooney e do resto do elenco nomeadamente Felicity Jones cujo papel se vem a revelar mais significativo e emotivo, mas falta a sensação de realismo talvez pelo facto das pontas soltas serem mais que muitas. Talvez com um argumento mais forte, este poderia ter sido das melhores apostas do ano que passou. Só que não.

Classificação final: 2,5/5 estrelas.

my (re)view: The Undoing . 2020

 

imagem via onyanserat.se


Todo o hype criado em torno de The Undoing torna-se um despedicio assim que chegamos ao final desta mini-série da HBO de seis episódios e percebemos que afinal podiamos apenas ter-nos ficado pelo primeiro e estava tudo bem. Levada aos ombros pela força dos protagonistas e pelo nome da realizadora a história acaba por não trazer nada de novo nem de surpreendente ao mesmo tempo que cria um suspense completamente desnecessário caminhando até um desfecho desleixado e bastante pobre criativamente. Falhou na surpresa, mas pior que isso, falhou na parte de investigação que poderia ter sido bem mais explorada. Ao invés disso, andamos perdidos no meio do melodrama da dona de casa que foi enganada pelo marido (aparentemente) perfeito. Nicole Kidman e Hugh Grant prometiam-nos imenso e suscitavam a curiosidade nos grandes posters da cidade que nos entravam pelos olhos a dentro vendendo-a como uma "grande série" só pela sua imagem. Considero as performances banais, sem dar grande espaço para os actores brilharem se bem que dos melhores momentos de representação que obtemos são os de Donald Sutherland, que aos 85 anos de idade continua impecável naquilo que faz. Quem mais brilha é sem dúvida ele e mal tem destaque. Esta é mais uma vez a prova que um elenco de estrelas não faz a qualidade de uma história que se releva muito básica e pobre a nível de narrativa. Quando cheguei ao último episódio senti que perdi o meu tempo com algo que me quis enganar o tempo todo, mas que nunca chegou a conseguir. 

Classificação final: 2,5/5 estrelas.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

my (re)view: The Affair (2014-2019)

imagem via www.observer.com

Desde o início da sua existência, ouvi e ouvi dizer que The Affair era uma excelente série. Sem qualquer tipo de razão, a verdade é que apesar de me ter despertado interesse, fui sempre adiando a sua visualização. Só sabia que envolvia uma traição (como o próprio nome da série indica) e que se focava nas consequências desse mesmo caso extraconjugal. O que eu não sabia era que a sua estrutura a faria destacar-se de outras já feitas até então e que a qualidade de escrita a faria ser única mostrando-nos que cada um de nós pode interpretar as coisas de maneira diferente, reagir e medir consequências de maneira diferente. Ao longo de todas as temporadas cada episódio está dividido em duas partes, que seguem os mesmos acontecimentos, mas vividos por duas personagens diferentes, explicando a visão de cada uma delas. Ao contrário do que se podia pensar, a repetição não é aborrecida e cada versão trás coisas novas para cima da mesa. Todas as temporadas são mais focadas em Noah (Dominic West) e Alison (Ruth Wilson) os dois personagens que se envolvem e levam de arrasto consigo numa teia de destruição Helen (Maura Tierney) e Cole (Joshua Jackson) que por isso mesmo também merecem o seu destaque, mas sempre vistos como os dados colaterais de todo o envolvimento. Esta é uma série bastante madura, que provavelmente não me teria sido tão interessante e impactante se a tivesse começado a ver uns anos mais cedo. Ela faz-nos perceber que todas as decisões que tomamos acabam por causar impacto nos que nos são mais próximos, quer sejam elas boas ou más. Se num momento estamos do lado de Noah por estar preso a um casamento infeliz e sufocante, estamos do lado de Helen pois nada perdoa uma traição. Se noutro momento estamos do lado de Alison por viver presa a um dor incurável, por outro lado estamos solidários com Cole, pois não deixa de partilhar essa mesma dor. Penso que até à quarta temporada a qualidade da série é bastante consistente e tirando um ou outro episódio mais fraco, pode-se dizer que na sua generalidade nunca desaponta. A última temporada é provavelmente a mais fraca de todas, onde talvez por algum tipo de pressão (existem algumas curiosidades de bastidores que mais tarde li e que possam ter influenciado um final mais apressado) fizeram decrescer a escrita e a tornaram menos consistente e mais previsível e até desleixada. Dispensava algumas das passagens temporais enormes e até ficava feliz se o final fosse deliberadamente aberto. Ficarão para sempre evidentes as interpretações excelentes de todo o elenco, nomeadamente os quatro protagonistas que em especial na temporada quatro, onde nos proporcionam alguns dos momentos mais bonitos e atrevo-me a dizer mais bem interpretados da história do drama em televisão. Chegando ao final deste texto, pensando em tudo aquilo que experienciei aquando da visualização de The Affair penso que terá sido das séries que mais gostei de ver. Sem dúvida fica como uma das minhas favoritas.

Classificação final: 4,5/5 estrelas.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

my (re)view: His House . 2020

imagem via www.empireonline.com

Sou particularmente esquisita com o género do horror, existindo algum parametros cujos quais sou bastante picuinhas para que fique satisfeita com o resultado. Não são os filmes pelos quais procuro regularmente por novidades, mas pelas sujeitões do catalogo da Netflix a premissa de His House interessou-me particularmente associando-o aparentemente só pelo trailer a algum filme que perturba-se mais a nível psiclogico do que propriamente a nível de sustos e daqueles clichés habituais em que já sabemos sempre quando e como vão acontecer. His House conta a história de um casal de refugiados que fugiu da guerra no Sudão em busca de uma vida melhor no Reino Unido. Ambos estão a ter dificuldades de adaptação à nova vida, mas um mais que outro, estando disposto a enfrentar as consequências de um trauma do passado. As óptimas interpretações de ambos os protagonistas fazem muito pelo sucesso do filme, mas também o ambiente que é criado em torno dos mistérios desta história onde o drama dos refugiados muito presente hoje em dia tem bastante impacto naquilo que o filme pretende transmitir enquanto mensagem. Desafios sociais e psicologicos misturam-se muito bem com os elementos de horror aqui aplicados relacionados com questões tribais e do sobrenatural com uma história sólida e suficientemente perturbadora para mexer connosco. É algo fresco e feito com qualidade suficiente para ficarmos de olhos postos em Remi Weekes, o realizador. Para os que possam ter dúvidas, vale a pena dar uma espreitadela.

Classificação final: 4/5 estrelas.