sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

my (re)view: The Irishman . 2019

imagem via bostonhassle.com
A maneira como vemos e apreciamos um filme vai mudando consoante o nosso gosto, mas acima de tudo vai acompanhando o nosso crescimento intelectual. Com Martin Scorsese aprendi que o meu gosto por cinema tinha um grande impacto na minha vida. Talvez sem os filmes dele e o que significavam para mim nunca me teria apercebido disso. Quando me perguntam qual é o meu género preferido de filme, digo imediatamente “gangster” e isso deve-se à forma magistral como Scorsese introduziu esta vertente no cinema. Mas vamos focar-nos no que interessa, The Irishman - o meu filme mais aguardado do ano, com um elenco de luxo, o tema do costume com os suspeitos do costume. E tal como o crescimento que falava anteriormente, este é um outro nível Scorsese, com a maturidade que todos estes bosses precisavam e só um homem podia fazer. Nunca me senti tão triste a ver um filme deste género e não digo isto de forma depreciativa. Essa tristeza vai aumentando até ficarmos totalmente desgastados, destroçados e é incrível evidenciar a eficácia com que isso se sente. De novo, o rise and fall de um outcast com muita sorte e o quanto o peso dessa sorte pode transformar-se num enorme vazio. Sente se uma melancolia cada vez maior e existe uma tensão crescente que só Thelma Schoonmaker sabe impecavelmente criar com a sua estratégica e detalhada edição. Ao contrário do ritmo energético de Goodfellas (1990) e Casino (1995), Martin Scorsese foca-se apenas nas relações entre um triângulo de amizades com ligações à máfia e das consequências das acções através de uma abordagem mais específica, pesada e madura. Frank Sheeran (Robert De Niro) conhecido como "the irishman" dedicou a sua vida a cumprir ordens de outros, deixando para trás o papel de homem comum na sociedade. Quando este passa de condutor de pesados a assassino contratado pelo chefe mafioso Russel Bufalino (Joe Pesci), vai ganhando a sua confiança demonstrando lealdade ao longo de décadas, vindo a ser mais tarde a sua amizade com Jimmy Hoffa (Al Pacino) a chave para o que Frank tinha de mais parecido com uma vida normal. Scorsese sempre foi um bom comandante e cada vez mais prova que é mestre da perfeição. A firmeza e intensidade entre actores é tão poderosa, não só graças aos dotes de interpretações destes gigantes como do argumento onde o desenvolvimento de personagens só podia ser bem conseguido pelo facto do filme nos dar esse tempo necessário para os podermos compreender. Cada etapa e cada decisão fica mais descomplicada de perceber assim que vamos conhecendo melhor os protagonistas e a pureza da sua amizade. The Irishman acaba por não ser só um filme de gangsters, é também a história de um homem cujas escolhas mais importantes da vida foram trocadas por momentos de poder e promessas que no final não restaram. Nos dias de hoje parece que é cada vez mais difícil agradar a todos, mas caramba, quem não concordar com a beleza cinematográfica que isto é não sei em que mundo vive.

Classificação final: 5/5.

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