Mel Gibson volta à realização e tudo é um misto de emoções. Facilmente conseguimos dizer que é um filme espectacular, belissimo, e ao mesmo tempo ficamos incrédulos com a facilidade com que quase consegue deitar tudo a perder, devido à sua falta de profundidade. Arriscando pouco, com um argumento superficial, segue uma estrutura semelhante a muitas outras histórias baseadas em factos verídicos dentro deste género.
Esta é a história de Desmond T. Doss (Andrew Garfield) um pacifista americano, que conseguiu sobreviver à guerra sem disparar uma bala durante a WWII, na Batalha de Okinawa em Abril de 1945. Prestando apenas auxilio como socorrista, Desmond destacou-se pela sua bravura, o que o levou a receber uma medalha de honra e o título de primeiro Objector de Consciência. Acompanhamos alguns dos momentos da adolescência de Desmond, a relação complicada com o pai (Hugo Weaving) veterano da Primeira Guerra e a descoberta do primeiro amor por Dorothy (Teresa Palmer). Uma história poderosa que apesar de se focar bastante na religião, vai muito para além disso, demonstrando as crenças e moral de um homem e a sua força interior e poder de acreditar, o que o ajudou a alcançar a coragem e bravura necessárias para enfrentar os horrores da guerra, sempre em paz consigo mesmo e cheio de bondade no coração.
Demasiado previsível desde o inicio ao fim, facilmente conseguimos prever todos as acções e até facilmente adivinhar tudo aquilo que os personagens vão dizer, de um jeito melodramático que poderá até tocar muitos, mas não resultar tão bem para outros. Com um fraco desenvolvimento de personagens, por vezes não sabe bem que ritmo tomar, optando por vulgarizar situações e utilizar muito os momentos de humor, um pouco fora de tom, que ao invés de aliviar a tensão prejudicam a verdadeira intenção, acabando por ridicularizar alguns dos momentos. No geral o casting não é perfeito, mas sem dúvida alguma que Andrew Garfield, como actor competente que é, emociona muito neste papel, destacando-se imenso, ao mesmo tempo que as sequências de guerra são tecnicamente bem conseguidas, impressionando e de que maneira! E é nessa sua segunda metade que tudo começa a ganhar a energia e a dureza necessária para o tipo de história. Com cenas dolorosas, sangrentas e cheias de tensão é impossível não viver aquilo que estamos a ver. Gibson consegue assim captar a rigidez, violência e o verdadeiro sofrimento da guerra.
Infelizmente é a inconsistência de O Herói de Hacksaw Ridge que se destaca mais e isso prejudica-o, mas vale a pena constatar que Mel Gibson continua a saber o que faz atrás de uma camera, e a mensagem que passa, combinada com os testemunhos verdadeiros no final do filme, deixam qualquer um a pensar.
Classificação final: 3,5 estrelas em 5.
Data de Estreia: 10.11.2016
Exibido no Lisbon & Estoril Film Festival 2016
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