segunda-feira, 22 de junho de 2015

Crítica: A Dama de Xangai (The Lady From Shanghai) . 1947


Review presente na edição nº39 (Orson Welles) da

Como em muitos outros dos seus filmes, Orson Welles realizou, produziu, escreveu e protagonizou The Lady From Shanghai, adaptado do livro de Sherwood King “If I Die Before I Wake” é um dos film-noir mais aclamados de sempre. De uma imaginação inigualável em termos de realização e complexidade no que toca ao enredo, este é uma daquelas obras que permanecerão para sempre intemporais pelo seu absoluto fascínio.

Michael O’Hara (Orson Welles), um marinheiro Irlandês (Welles faz um sotaque um tanto ou quanto irritante, sendo sem dúvida essa a coisa que mais me incomodou durante filme) é quem nos narra os acontecimentos da história desde o primeiro minuto. Uma noite conhece a belíssima Elsa Bannister (Rita Hayworth, absolutamente deslumbrante como qualquer feme fatale deve ser) e de imediato se apaixona por ela. O’Hara salva-a de um bando de assaltantes e pelo caminho de regresso a casa deixa-se imediatamente levar pelos seus encantos, mas recusa uma oferta de emprego no iate do seu marido Arthur Bannister (Everett Sloane) um famoso advogado criminal na cidade de São Francisco. Totalmente enfeitiçado pelo charme arrebatador de Elsa – “from that moment on I did not used my head very much except to be thinking for her” – era então tarde demais para fugir à tentação. O’Hara estaria longe de imaginar de que poderia chegar ao fim da viagem de iate como acusado de um assassinato que não cometeu. George Grisby (Glen Anders), personagem secundário mas bastante emblemático na história pela performance paranóica e por vezes até pertubadora, revela-se uma peça chave na resolução da mesma. Braço direito de Mr. Bannister observa, intimida e é o responsável por perturbar e distorcer a mente e intenções de O’Hara. Sabemos que os quatro são de algum modo pessoas ambiciosas, só não sabemos se terão realmente o egoísmo e más intenções que por vezes transparecem pelas entrelinhas de um misterioso puzzle.


A história não tem muito a ver com Xangai a não ser o facto de Elsa ter passado algum tempo lá quando era criança e ter aprendido a língua, conexão com o título que só fazemos bem perto do final. A viagem de iate desde Nova Iorque, passando pelas Caraíbas, até Acapulco é algo digno de uma cinematografia deslumbrante e é engraçado vermos o contraste entre os ambientes de cada área e a atitude fria e preocupada dos personagens. As fascinantes composições visuais, o uso das luzes, sombras e o brilhante trabalho de camera, com ângulos vertiginosos ou maravilhosos close-ups faciais, complementam esta história de luxúria e traição mas com todo o charme que é requerido pelo estilo noir. Ele carrega consigo a visão negra de um mundo caótico cheio de manipulação, segundas intenções e a atmosfera sombria de um pesadelo que nos absorve de forma inquietante e energética.

Em 1948 quando o filme sai, revela-se um pouco incompreendida. Por detrás daquilo que parece ser um filme bastante simples, Welles acaba por fazer com que queiramos desvendar todos os pequenos detalhes simbólicos de cada situação tentando perceber a sua lógica e até mesmo nas situações que possam parecer mais disparatadas, existe uma progressão naquilo que Welles pretende passar ao espectador. Todas as personagens vivem algum tipo de pesadelo e a tensão constante entre elas traduz-se em momentos de atmosfera pesada mas absolutamente intensa guiando-nos até um final sinistro mas literalmente único.

Apesar de ter sido muito aclamado na Europa, The Lady From Shanghai só obtém reconhecimento nos Estados Unidos décadas depois, sendo nos dias de hoje considerado um dos grandes clássicos noir.

Classificação final: 4 estrelas em 5.

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