sexta-feira, 18 de março de 2016

Crítica: Deus Existe e Vive em Bruxelas (Le Tout Nouveau Testament) . 2015


E se Deus fosse igual ao mais comum dos mortais? E se para além de ser "normal", fosse ainda o mais asqueroso e desumano ser à face da Terra? É essa a fantasiada premissa da comédia Deus Existe e Vive em Bruxelas, escrita e realizada por Jaco Van Dormael.

Deus (Benoît Poelvoorde) passa a maior parte dos seus dias atrás de um computador, onde comanda não só a vida de todos os seres, mas também tudo o que rodeia o seu dia-a-dia, desde as rotinas mais básicas aos acontecimentos mais desastrosos, por vezes com consequências assustadoras. Tem mulher (Yolande Moreau), um filho - mais conhecido por Jesus Cristo (David Murgia) - e para espanto de todos, também tem uma filha, Ea (Pili Groyne). Quando esta decide fugir de casa, depois de 10 anos de abusos físicos e psicológicos, quer seguir as pisadas do irmão e escrever o "Novíssimo Testamento". Para isso, precisa de seis apóstolos adicionais. Convicta de que será capaz de mudar hábitos e mentalidades, Ea faz a pior das coisas, envia através do computador do Pai uma mensagem a todas a pessoas do mundo contendo a data exacta da sua morte, deixando todos mais vulneráveis e conscientes das suas atitudes e modos de vida. Desse modo, irá encontrar os apóstolos certos para a acompanhar na sua jornada.


Uma nova versão, original, irreverente, que não deixa de ser polémica, da imagem que se tem de Deus, sob o olhar adorável, imaginativo e bastante significativo de uma criança que procura o que de melhor existe no ser humano. Certamente não irá agradar aos mais conservadores, podendo até chocar os mais fieis. Recorrendo várias vezes à sátira para recontar histórias bíblicas, cada um dos apóstolos tem a sua peculiar história, umas meio esquisitas (como por exemplo a história de amor à primeira vista entre Catherine Deneuve e um gorila ou de Serge Larivière viciado em sexo) outras extremamente tocantes (como a de um jovem rapaz, que prefere viver os seus últimos dias como uma rapariga). Recheado de momentos cheios de significado, e muito humor negro à mistura, Deus Existe e Vive em Bruxelas acaba por ser um conto sobre a importância dos afectos e escolhas que fazemos ao longo da vida. A criatividade com que é apresentado, tanto visualmente como pela sua narrativa fazem com que marque a diferença.

Saímos da sala com uma sensação enorme de optimismo, que nos é transmitida constantemente ao longo do filme. Religiões à parte, a mensagem esta para além do superficial, e é forte e bem conseguida.

Classificação final: 4 estrelas em 5.
Data de Estreia: 10.03.2016

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