terça-feira, 29 de março de 2016

Crítica: O Conto dos Contos (Il Racconto dei Racconti) . 2015


Há algo de louco mas ao mesmo tempo fascinante neste O Conto dos Contos de Matteo Garrone. O realizador italiano do muito falado Gomorra, passa do mundo da máfia italiana para o mundo dos contos de fadas, onde ideias reais e fantasia se cruzam numa viagem interessantíssima até ao barroco do século XVI.

Podemos dividir este filme em três partes, visto que nele estão representados três reinos distintos, mas muito próximos, e que em certos momentos lá se vão cruzando nas suas histórias. No primeiro seguimos a história o rei e a rainha de Longtrellis (John C. Reilly e Salma Hayek) atormentados pela ausência de um herdeiro, visto que a rainha não consegue ter filhos. No segundo, o rei de Strongcliff (Vincent Cassel) viciado em sexo, que ocupa os seus dias, a tentar encantar todo o tipo de donzelas. E por último o peculiar rei de Highhills (Toby Jones) com uma pulga de estimação, que prefere ocupar os seus dias preocupando-se com a bizarra ligação com o insecto, do que com a sua própria filha Violet (Bebe Cave). Uma mistura cativante e muito creepy que prende o nosso interesse do inicio ao fim.


As referências aos mais variados e bem conhecidos contos de fadas são uma constante, sempre ligados de algum modo a grandes metáforas que remetem para uma sociedade bem actual. Princesas e príncipes, reis e rainhas, criaturas estranhas e situações um tanto ou quanto bizarras, ilustram a tela com muitas mensagens escondidas, que cada conto tem a capacidade de transmitir, através de uma atmosfera de mistério que nos remete para o horror, assim como um forte erotismo que faz questão de sobressair em alguns dos casos apresentados. Com uma capacidade incrível de nos prender ao ecrã, mesmo os momentos mais estranhos têm o efeito devido, conjugado com grandes performances por parte de todo o elenco. Rico não só em termos de enredo, mas também visualmente, tanto paisagens exteriores como cenários são de tirar o fôlego, assim como o excelente guarda-roupa e banda sonora intrigante. 

Não admira que tenha sido bastante falado no último Festival de Cannes, pois bem merece. Certamente não irá agradar aos mais conservadores, mas tenho a certeza que quem o vir, mesmo que não goste ficará marcado por muitos dos momentos, que permanecem na nossa mente. Mais que não seja pelas referências a histórias como as de Rapunzel, Hansel e Gretel ou até a Shrek recorrendo muitas vezes à sátira. Vale a pena. 

Classificação final: 4,5 estrelas em 5.

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