terça-feira, 7 de junho de 2016

Crítica: Carol . 2015


Um amor arrebatador. Um fascínio à primeira vista. E tal como acontece com as cativantes personagens do filme, Carol têm sobre nós esse mesmo poder. Baseado no romance de 1952 “The Price of Salt” de Patricia Highsmith, este é o relato hipnotizante de um amor proibido, levado até nós de forma magnifica por Todd Haynes

Na encantadora época de Natal de Nova Iorque dos anos 50, uma charmosa e requintada dona de casa de meia idade de seu nome Carol Aird (Cate Blanchett) conhece a simples e discreta jovem Therese Belivet (Rooney Mara) aspirante a fotografa, actualmente empregada na secção de brinquedos de um grande armazém da cidade. Ambas sentem de imediato uma forte atracção, e os encontros começam a ser recorrentes, mesmo quando a possibilidade de um relacionamento entre as duas, vai contra todos os costumes da época. Forçada a fingir sentimentos e a viver segundo padrões rígidos da sociedade, Carol terá agora que lutar pela custódia da adorada filha contra o amargurado ex-marido (Kyle Chandler) arriscando-se a perde-la, quando este a expõe perante um juiz, afirmando que a prática de uma conduta homossexual, para além de ser impropria aos olhos da sociedade, lhe irá tirar o que de mais precioso tem na vida. Dividida entre o amor pela filha e a vontade de viver uma vida com liberdade, sem segredos, Carol decide fazer uma viagem com Therese, onde encontrará todas as perguntas e respostas que precisa, ao mesmo tempo que o fascínio que sente pela jovem se apodera cada vez mais da sua mente.


Visualmente vibrante, de atmosfera inquietante, a belíssima banda sonora envolve-nos ainda mais perante as emoções, que nunca caem no exagero, e rapidamente percebemos os conflitos interiores de cada um dos personagens, coerentemente inseridos na atmosfera certa daquele período, até mesmo do que diz respeito ao guarda-roupa, peça essencial de sedução. Cate Blanchett é sem dúvida alguma fabulosa, e como umas das minhas actrizes preferidas seria difícil ficar desapontada. Mas que os créditos não sejam retirados a Rooney Mara que aqui está igualmente fantástica. A entrega das duas actrizes é tal, e a química entre as duas tão forte, que as personagens carregam consigo sentimentos totalmente credíveis desde o primeiro minuto. Carol é um filme que é feito de momentos, de olhares, de silêncios que nos envolvem por completo até nos seus mais pequenos e misteriosos detalhes. Uma película digna de enorme reconhecimento, que demonstra que o amor não escolhe nem idade, nem género e que todos têm direito à sua felicidade. São pequenos gestos e toques, que através da lente nos fazem sentir como se estivéssemos com estas duas mulheres, bem de perto. Recheado de pormenores de uma grande subtileza feminina, é através de graciosas sequências que de forma única e visceral vai demonstrando uma dor emocional imensa, ao mesmo tempo que consegue emanar um forte erotismo do início ao fim.

Todd Haynes concretiza assim um romance cheio de mistérios que se revelam tão simples de descodificar, e nos absorve para dentro dele, como se estivéssemos a cada momento a espreitar o intimo destas duas mulheres. Carol é muito mais que uma história sobre homossexualidade, é simplesmente sobre viver um grande amor que acarreta consigo consequências. Sem dúvida um dos mais belos filmes de 2015. Em todos os sentidos.

in Take Cinema Magazine, edição 43.

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