segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Crítica: The Impeccables (Kusursuzlar) . 2014


É sempre bom descobrir pérolas do cinema independente. Kusursuzlar é um estudo subtil, mas muito poderoso sobre a violência contra as mulheres e as marcas psicológicas e físicas consequentes a isso, onde as fortes presenças femininas marcam a narrativa forte, cheia de mensagens subliminares sobre o mundo ainda maioritariamente dominado pelos homens.

Lale (Ipek Türktan) e Yasemin (Esra Bezen Bilgin) são duas irmãs na casa dos trinta, que decidem fugir um pouco da rotina, regressando passado uns anos à casa de verão da família. Durante a sua estadia, a relação entre as duas é posta à prova por diversas vezes, existindo confrontos constantes entre si, quase sem entendermos porquê. A verdade é que ambas sofrem emocionalmente com eventos que ocorreram no passado, algo que as distancia mas aproxima ao mesmo tempo. Através de pequenas pistas vamos entrando na intimidade destas duas mulheres, na procura iminente pela paz interior.


Este filme do turco Ramin Martin, explora uma intrigante e quase esquisita relação entre duas irmãs. Pouco ou nada sabemos sobre elas, apenas que uma é decidida, extrovertida com uma postura marcante perante a vida, e a outra tímida, insegura e de poucas palavras. À medida que vamos entrando um pouco mais no seu dia-a-dia e observamos o comportamento de ambas, não só perante situações pontuais, mas também nas reacções de uma para com a outra, vamos questionando o que terá acontecido para que resultem tais comportamentos. A tensão está muito bem construída e o interesse em querer saber mais sobre estas duas mulheres vai aumentando gradualmente, assim como as pistas que ambas nos vão deixando. Contém também uma forte mensagem social acerca dos abusos e violência que muitas mulheres ainda vivem nos dias de hoje, fazendo um interessante contraste entre as diferenças culturais. Simples, de ritmo lento mas bastante efectivo, Kusursuzlar não entrega todos os pontos facilmente, com o propósito de provocar algo que estimula o interesse ao longo de toda a sua duração. A cinematografia ajuda a construir tensão, assim como a banda sonora, subtil mas determinante, lado a lado com boas performances e paisagens magnificas com o mar Egeu como fundo.

Este é um filme sobre escolhas e mudanças inerentes ao sofrimento causado por eventos dolorosos do passado. Um retrato de desgaste emocional e conformidade como o andamento natural da vida, do recomeçar de novo.

Classificação final: 4 estrelas em 5.
Exibido no Festival Olhares do Mediterrâneo 2016.

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