
Quando me preparo para começar a escrever um texto sobre um filme que gosto muito é sempre uma tarefa complicada. Tenho receio de me tornar demasiado exagerada, pretensiosa ou simplesmente que esteja a tentar moldar a minha adoração perante outros. Acho que é sempre mais fácil dizer mal, do que dizer bem, e é nos filmes que me deixam mais arrebatada que sinto essa dificuldade, e mais me faltam as palavras. Não é segredo nenhum, que aqui já várias vezes louvei o trabalho de
Dennis Villeneuve, o realizador que rapidamente me fascinou desde o primeiro trabalho que dele vi. Acredito que ele é tudo aquilo que a minha geração procura viver no cinema, o entusiasmo de aguardar pela estreia do filme que queremos imaginar ser a próxima obra-prima que daqui a 35 anos vão continuar a falar. Tal como
Ridley Scott transformou o seu
Blade Runner, em algo que ainda hoje deixa marca a quem o assiste pela primeira vez, também
Denis Villeneuve transformou esta sequela em algo só seu, com cunho pessoal que homenageia o trabalho de um veterano, aperfeiçoado por outro que converte o legado a algo muito superior. A maneira com que a história é respeitada, e os caminhos percorridos são traçados, eleva o espírito
Blade Runner a toda uma outra dimensão, ainda mais complexa e mais interessante de ser experienciada, abordando questões sociais e humanas de forma metafórica, mas suscitando muitas outras dúvidas que nos perseguem muito depois do filme ter terminado. É na beleza dos planos, das cores e dos
sets, é na forma crua e vulnerável que se apresentam os personagens das suas histórias, é na delicadeza das imagens e dos gestos, é nas palavras que por mais complexas ou confusas que possam ser, tocam de alguma forma. Nunca dúvidei das suas capacidades, mas tinha medo que com um peso destes sobre as suas costas o resultado não fosse propriamente o esperado.
Roger Deakins ajudou construir a sua beleza visual, o jogo de luzes que se entranha pelos olhos adentro, e nos absorve para dentro de si.
Hans Zimmer e
Benjamin Wallfisch formam melodias melancolicas que arrepiam. O
casting perfeito que leva
Ryan Gosling ao limite e eleva
Harrison Ford a um nível que há muito tempo não viamos. É como se
Villeneuve conseguisse fazer magia em qualquer coisa em que pegue.
2049 é mais uma prova de como o seu trabalho é um dos mais interessantes que se fazem hoje em dia.
Muitos poderão achar exagero se colocar Denis Villeneuve no mesmo patamar de um Kubrick ou de Scorsese, mas a verdade é que ele consegue deixar me a cada obra sua mais e mais apaixonada pelo seu trabalho e pela genialidade com que consegue transmitir sentimentos e emoções através da lente da sua camera. Muito mais que uma review, esta acaba por ser a minha carta de amor a Villeneuve, tal como 2049 é a carta de amor de Villeneuve para Blade Runner.
Classificação final: 5 estrelas em 5.
Data de estreia: 05.10.2017